30 de dezembro de 2024
OPINIÃO

Bets: armadilhas que endividam milhões


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O crescimento desenfreado das apostas on-line no Brasil, as chamadas "bets", está gerando um impacto social alarmante, especialmente entre as famílias de baixa renda. De acordo com dados divulgados pelo Banco Central, em agosto deste ano, beneficiários do Bolsa Família transferiram R$ 3 bilhões para empresas de apostas por meio de PIX.

O estudo revelou que 17% dos beneficiários do programa social realizaram apostas com uma média de R$ 100 por mês. Desse total, 4 milhões de chefes de família, que representam 70% dos apostadores, foram responsáveis por R$ 2 bilhões dessas transferências.

Esses dados são preocupantes, pois expõem o público mais vulnerável a um ciclo de endividamento e dependência financeira. A promessa de um enriquecimento rápido, aliada ao apelo das campanhas publicitárias em horário nobre da TV e nas redes sociais, torna as apostas especialmente atraentes para quem já enfrenta dificuldades econômicas.

A nota técnica que acompanha o estudo do Banco Central reforça que as famílias de baixa renda são as mais prejudicadas por essa prática, com muitos apostadores depositando suas esperanças de uma vida melhor nas mãos do acaso.

Além do impacto entre os beneficiários do Bolsa Família, o problema se espalha por toda a população. Estima-se que 24 milhões de pessoas físicas participaram de apostas em empresas no Brasil desde o início de 2024, e o valor gasto em apostas apenas via PIX ultrapassa os R$ 20 bilhões por mês.

A situação é ainda mais alarmante quando consideramos que 30% dos brasileiros com contas em bancos já recorreram a empréstimos para financiar suas apostas, como apontado por uma pesquisa da fintech Klavi. O gasto médio por apostador endividado foi de R$ 1.113,09, e em alguns casos, os valores são muito superiores, levando muitas famílias a uma situação financeira insustentável.

Assim como o vício em álcool e outras drogas, as apostas possuem um potencial destrutivo sobre a vida das pessoas. O mercado de bets está fora de controle, e, sem uma regulamentação clara e efetiva, o Brasil corre o risco de ver uma geração inteira se endividar e perder suas economias nas mãos da sorte.

É urgente que o governo atue para proteger os cidadãos e evitar que se venda o sonho do lucro rápido, destruindo ainda mais famílias.

Miguel Haddad é advogado, foi deputado e prefeito de Jundiaí (miguelmhaddad@gmail.com)