Por que será que, em pleno século 21, a presença de mulheres em cargos de comando ainda causa espanto e demonstrações de raiva nas redes sociais? Todos nós já sabemos que o CEO da G4 Educação perdeu seu cargo na empresa e no conselho da Hope após sua fala misógina contra mulheres ocupando cargos de presidência de empresas. Inúmeras CEOs, diretoras e conselheiras foram a público demonstrar seu desapreço por uma fala tão absurda.
Mas, vejamos. De acordo com pesquisa da Deloitte, a porcentagem de mulheres CEOs no Brasil aumentou de 0,8% para 2,4% entre 2021 e 2023. No entanto, a pesquisa também indica que a equidade de gênero nos conselhos pode não ser alcançada antes de 2038. Em todo o mundo, apenas 6% dos CEOs globais eram mulheres, com um aumento de 1% em relação a 2022.
Costumamos comentar que há vários tetos de vidro contra a ascensão da mulher. Além da própria ojeriza corporativa em promover mulheres, estas – muitas vezes – deixam suas ambições de lado por conta da maternidade, afazeres com a família e, depois dos 50, também como cuidadoras de pais idosos. E como mudar essa cultura própria? E como exigir mais vagas na liderança de empresas?
Como parte do meu tempo é tomado pelo ESG (meio ambiente, social e governança), não posso deixar de tecer elogios à implantação das diretrizes preconizadas ali, que acabam promovendo um ambiente mais igualitário nas empresas. Para uma empresa se adequar às metas, é preciso que tenha equidade salarial, presença de 50% de equipe feminina e, pelo menos, 50% de mulheres na liderança. Empresas seriamente comprometidas com o ESG definem metas de avanço, ano a ano, para que as mulheres ocupem cargos diretivos.
De outro lado, entretanto, vejo poucos avanços reais em se criar um ambiente realmente propício para o desenvolvimento de carreiras para mulheres. Nunca me esqueço de quantas mulheres encontrei chorando pelos banheiros e corredores de empresas por voltarem ao trabalho seis meses depois de dar à luz. Vamos combinar que seis meses é um tempo muito pequeno para o bebê ser desmamado e para essa mãe ser desvinculada deste pequeno ser. Sem falar em gestos cotidianos misóginos, como quando uma mulher se posiciona seriamente a chamarem de ‘grossa’. Para um homem, é assertividade. A criação de espaços para coworking com assistentes para os filhos pequenos, home office e outras pequenas alterações podem beneficiar a permanência da colaboradora.
De acordo com o Meio & Mensagem, quando uma mulher ocupa a presidência da companhia, a presença de profissionais femininas é maior em todos os níveis. Não tenho dúvidas de que uma empresa dirigida por uma mulher é mais ética, transparente e regrada pelo compliance. Meu conselho é que – munidas de britadeiras e resiliência – quebremos os tetos de vidro.
Ariadne Gattolini é jornalista e escritora. Pós-graduada em Sustentabilidade Corporativa pela FGV e editora-chefe do Grupo JJ