06 de outubro de 2024
OPINIÃO

O Céu e o Inferno


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O livro “O Céu e o Inferno” ou “A Justiça Divina segundo o Espiritismo” é uma das cinco obras básicas da Doutrina Espírita, codificadas por Allan Kardec. Nele existe um estudo comparado das crenças sobre temas do porvir: céu e inferno, anjos e demônios, penas e recompensas futuras.

O Espiritismo nos ensina que o destino eterno do ser não pode ser definido segundo o que se fez única e exclusivamente em uma existência. Parece justo que uma única experiência na carne, uma única chance de acertar, defina toda a eternidade do Espírito? Isso é condizente com a infinita bondade e misericórdia de Deus? Se Jesus nos ensinou que devemos perdoar infinitamente aos nossos semelhantes, por que Deus não nos perdoaria? É por isso que essa ideia de um inferno com penas eternas não é lógica e não existe.

O céu e o inferno não são locais geográficos, são estados de consciência, são realidades intrínsecas do ser. Estando o sofrimento vinculado à imperfeição, como o gozo à perfeição, a alma carrega em si mesma seu próprio inferno em toda parte onde se encontra, não sendo preciso para isso, um lugar circunscrito. O inferno está em todo lugar onde há almas sofredoras, como o céu está em toda parte onde há almas bem-aventuradas. Assim, o sofrimento ou a felicidade são reflexos da consciência e das ações do Espírito. Nós criamos o nosso céu ou inferno, com nossos pensamentos e vontades e, ao desencarnar, seremos atraídos automaticamente, por afinidade, para perto de Espíritos com a condição semelhante à nossa.

O umbral, que é citado em diversos livros espíritas, pode ser considerado por alguns como um tipo de inferno, mas nem todos os espíritos que passam por lá pensam assim, há aqueles que encontram nada mais do que um habitat natural. Estes locais são plasmados pelas ideias e formações mentais do conjunto de Espíritos que se aproximam por sintonia vibratória. Os indivíduos podem lá passar períodos curtos ou longos, de acordo com seu grau de compreensão sobre seus atos e com a gravidade das ações que realizaram. Mas, no momento certo, de acordo com o seu entendimento, necessidade e merecimento, serão resgatados por equipes espirituais e, seguirão a sua jornada evolutiva.

A ideia de céu como um local de descanso eterno também não se faz presente no Espiritismo, ao contrário disso, quanto maior a evolução, maior é a tarefa e o trabalho do Espírito, esteja ele encarnado ou desencarnado. Sempre que trabalhamos segundo as leis de Deus, estamos construindo o nosso céu interior.

Estejamos encarnados, vivendo na Terra, ou desencarnados, habitando esferas do mundo espiritual, tudo o que nos rodeia foi, inicialmente, gerado em nosso próprio íntimo, porque são os nossos sentimentos e pensamentos que determinam a realidade que nos envolve. Quando, verdadeiramente, nos conscientizarmos da capacidade que todos possuímos de materializar no exterior o que somos por dentro, entenderemos que cada um de nós vive no mundo de luz ou de trevas que escolheu para si próprio.

Eduardo Battel é médico urologista, expositor Espírita e Coordenador da Liga de Medicina e Espiritualidade da FMJ (ebattel@hotmail.com)