21 de novembro de 2024
OPINIÃO

Salvem os beija-flores urbanos


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Moro em uma casa grande, que tem seu quintal voltado para um morro alto, que faz divisa com a avenida dos Imigrantes. Ali, realizei um projeto paisagístico com o arquiteto Edu Pereira, também colunista deste JJ, plantei cerca viva em todos os três andares e minha casa recebe visitas de beija-flores, saguis e borboletas. Minha felicidade é tamanha quando – no meio das plantas da garagem – tive como hóspedes dois ovos de beija-flores que eclodiram e nasceram ali. Para mim, uma bênção divina. 

Ao acordar, converso com os saguis, pois já identifico seus silvos. Meu vizinho, há décadas atrás, comprou o restinho do terreno do fundo, uma viela e ali deixou uma ameixeira crescer. Pois dali observo os pássaros amarelos, vez ou outra um Jacu e outras espécies. 

Mas, como estamos em área urbana, um novo empreendimento de apartamentos  vai surgir e impactar essa pequeniníssima fauna. Nada contra os empreendimentos, mas na minha singela inocência, adoraria que as nossas leis vigentes (EIV, por exemplo) pudessem enxergar o micro do micro e preservar também esses pequenos respiros de flora que temos em nossa linda cidade. 

Segundo a IA, as áreas verdes nas cidades impactam o microclima, diminuindo temperatura, melhora a qualidade do ar, o bem-estar das pessoas e preserva a fauna existente. É verdade que Jundiaí vem, desde o pioneirismo do ex-prefeito Miguel Haddad, criando parques com vegetação. O primeiro deles foi a recuperação da área do hoje então conhecido Jardim Botânico. Ali, era uma área de descarte, com pouquíssima vegetação. Veja como é linda hoje! Entretanto,  esses parques não são suficientes para que a preservação atinja toda a área urbana. 

Parece utopia, mas não é. Cidades europeias têm investido em retomar o curso da natureza, recuperando áreas verdes, cursos naturais dos rios e promovendo o conforto térmico. Como já escrevi em outro artigo, a mudança climática está presente neste momento em nossas vidas, com o desenho de catástrofes desenhadas por cientistas mundiais para a próxima década. 

Do ponto de vista comercial, tenho acompanhado projetos urbanísticos e novos espaços empreendedores em São Paulo cuja temática é exatamente esta: trazer o verde para dentro das casas, apartamentos, corredores urbanos. Escrevam o que prevejo, os antes desprezados quintais serão cada vez mais valorizados comercialmente.
 
Voltando ao meu bairro, ali na esquina também está surgindo uma horta urbana, com apoio da prefeitura. Vou poder comprar verduras andando somente três minutos. Mas vocês veem como articulação é a palavra-chave do novo milênio, as compensações ambientais estão no centro da discussão. Não adianta eu arrancar 100 árvores para um novo projeto. Por que não preservar as árvores, com novas condições arquitetônicas e soluções e adequar as minhas intenções ao que já existe?

Preservar é vida. Vida atual e futura.  A minúscula área verde, os quintais, as margens das avenidas, rios. Os mananciais.  Desejo a todos vocês a singeleza dos meus beija-flores.  Para alegrar a alma neste domingo.

Ariadne Gattolini é jornalista e escritora. Pós-graduada em ESG e Sustentabilidade Corporativa pela FGV e editora-chefe do Grupo JJ (ariadne@jj.com.br)