22 de dezembro de 2024
OPINIÃO

O desafio da cruz


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Na sexta-feira, dia 23 de agosto, durante os acontecimentos da Peregrinação das Relíquias de Santa Teresinha do Menino Jesus e da Sagrada Face no Carmelo São José, em Jundiaí, houve uma palestra fantástica ministrada pelo Frei Afonso de Santa Teresinha. Compartilho o que anotei e que me fez um bem imenso. Talvez agrade alguns dos leitores e devotos da Santa de Lisieux.

Em primeiro lugar, ele refletiu que todos os acontecimentos, como o da Peregrinação, devem se referir a Jesus Cristo, que assumiu até os nossos pecados. Deus se serve de tudo, inclusive da nossa matéria, e tudo que é humano se torna do interesse d'Ele. A primeira ação de Jesus foi Se tornar gente. Tornou-Se humano nas entranhas de Sua mãe.

Referindo-se aos santos, comentou que eles não se autossantificam; permitem-se santificar por Deus. Acolher os santos é acolher o dom de Deus, que é Santo, é Vida comunicada a nós. Deus não nos exclui; pelo contrário, nos inclui. Ama-nos como amou o Filho, com a diferença de que Ele correspondeu totalmente a Esse amor. O próprio Jesus pediu ao Pai que estivesse em nós com o mesmo amor com que O amou. Frei Afonso citou um pronunciamento do Papa Bento XVI sobre o que faz um cristão de fato: não é uma vida ética, é o deixar-se pertencer a Deus.

Santa Teresinha, segundo suas reflexões, entendeu isso profundamente, e Deus Se serviu de sua massa humana. Ela aprendeu a amar o Senhor a partir do testemunho de sua família. Compreendeu, ainda menina, que o Evangelho é um programa de vida e a grandeza do ser humano. Há diferenças de almas, e a graça de Deus entra em nossa história conforme somos. Via as criaturas como joias criadas por Deus, e uma joia não perde seu valor, mesmo que esteja no meio do lixo. Buscava enxergar os outros com os olhos de Deus. Jamais perdeu a confiança na misericórdia do Senhor, e numa época em que predominava o jansenismo, que via Deus como misericordioso, mas distante.
É normal sentir simpatia e antipatia. Ninguém peca pelo sentimento e nem se salva por ele. A escolha, no entanto, deve ser amar evangelicamente uma pessoa, mesmo que sinta antipatia por ela. Santa Teresinha considerava que, quanto mais unida estivesse com Jesus, mais amava as pessoas. Testemunhou que somente o amor dá sentido à vida, e a cruz irá sempre nos desafiar em nossas atitudes. Guerreava contra si mesma para semear a paz.

Para Frei Afonso, devemos vê-la além das rosas, não a deixar sequestrada por elas, mas sim, como símbolo do amor, muito decidida a ser sinal da presença de Deus. Ela via as preces como um grito que sai do coração, tanto no momento de alegria quanto de tristeza, pois, quando é o coração que reza, o Senhor atende. O Beato Maria Eugênio, OCD, em seu livro “Teu amor cresceu comigo – Teresa de Lisieux: gênio espiritual”, escreve que sua teologia mística se baseia na colocação de Jesus sobre ser criança para entrar no Reino de Deus, porque é o mais fraco; não porque é o mais merecedor, mas porque, pela fraqueza e pobreza, oferece a Deus o vaso maior para tudo receber.

Acompanhar de alguma forma a Peregrinação das Relíquias de Santa Teresinha e ouvir o Frei Afonso foi como uma chuva de rosas, uma graça amorosa de Deus. Gratidão imensa às queridíssimas Monjas do Carmelo São José e seus colaboradores!

Maria Cristina Castilho de Andrade é professora e cronista (criscast@terra.com.br)