21 de dezembro de 2024
OPINIÃO

Como enfrentar a crise climática?


| Tempo de leitura: 3 min

Quase metade dos brasileiros acha que o governo nada faz para enfrentar a crise climática. Não é só o Poder Público que merece crítica da população, também as grandes empresas, o setor agrícola, a sociedade brasileira em geral, as organizações não governamentais, todos esses setores poderiam fazer mais, de acordo com os que se manifestaram numa entrevista realizada pela Datafolha no dia 2 de julho.

54% dos ouvidos dizem que sua rua e vizinhança não está preparada para enchentes, alagamentos e inundações. Metade da população brasileira acha que seu bairro não está nem um pouco pronto para lidar com situações agudas de calor ou seca. Maior percentual ainda é dos que acham que seu bairro está sujeito a deslizamentos e que o governo nada faz para evitá-los.

Grave é a constatação de que grande parte dos brasileiros acredita que as consequências dos desastres ambientais só afetarão as futuras gerações. Isso é ruim porque inviabiliza a mobilização que deveria existir, seja para provocar atuação do Poder Público, seja para motivar a participação da própria cidadania, a maior interessada em que não haja mortes e destruição.

É claro que a população tem o direito e o dever de exigir do governo, que só existe e funciona porque os contribuintes o sustentam, todas as providências para o enfrentamento da emergência climática que chegou e não vai mais embora. Ao contrário, virá, cada vez com força e violência maiores. Mas é também preciso despertar nos moradores da cidade a sua responsabilidade cívica em relação a um problema que, afinal, não foi causado pela Prefeitura. É consequência de uma conduta de todas as pessoas.

Como é que o cidadão, isolado, individualmente considerado, pode atuar para mitigar os efeitos dos fenômenos extremos?

De muitas maneiras. Por exemplo, gastando menos água, gás, combustível e energia elétrica. A escassez hídrica é ameaça constante num Brasil que destruiu sua cobertura vegetal e que precisa de bilhões de novas árvores para reconstituir o que a natureza ofereceu gratuitamente, após um serviço ecossistêmico de milhões de anos. Pense no que significa um litro de água economizado por habitante. Basta multiplicar o número de habitantes e ver-se-á que a economia foi considerável.

A energia estacionária é emissora de poluentes. Assim como o uso de combustíveis fósseis, que fazem nossos veículos expelirem CO2, o dióxido de carbono, mais outros gases causadores do efeito-estufa. Um dia sem carro, usar mais transporte coletivo, andar a pé, usar bicicleta, patinetes, tudo ajuda a diminuir as emissões.

Mas, o principal, é deixar de produzir resíduo sólido na quantidade incrível que o Brasil ostenta ao mundo. São milhões de toneladas diárias. Quase todas elas destinadas a aterro sanitário, o nome bonito dos antigos lixões. Aterro sanitário é um mal em si. Áreas nobres, que deveriam ser parques, bosques, unidades de conservação, acumulam lixo. Fruto da ignorância de uma cidadania que não sabe destinar seus descartes e que parece desconhecer de que existem conceitos como economia circular e logística reversa.

A responsabilidade, portanto, é de todos. Mas um derradeiro argumento: quem morre, às vezes precocemente, em virtude do clima adverso, é o ser humano. Não é governo. Governo é ficção, que nós sustentamos e ao qual, inadvertidamente, prestamos vassalagem. Por isso, cuide de enfrentar, como puder, a crise climática. Em caso de tragédia, a vítima será você, sua família, os seres que você ama. 

José Renato Nalini é reitor, docente de pós-graduação e Secretário-Executivo das Mudanças Climáticas de São Paulo (jose-nalini@uol.com.br)