Nos anos 1970, uma zebra pintada na lateral de um edifício na Praça da República causou espanto, não era publicidade. Ninguém sabia ainda porque estava lá ou o que era. Se falava muito sobre se era arte ou o que, e embora se apresentava como arte e já denominada grafiti, poucos aceitavam aquilo como tal.
Todos estavam enganados! Aquela manifestação ousada de Claudio Tozzi, artista pop que já era um expoente, inaugurou uma importante e democrática maneira de manifestação artística, que não parou mais. A partir dele, as paredes se encheram de pixes e de silks com as mais inusitadas expressões.
Eu mesmo em 1971 fiz um grafite aqui na Rua do Rosário, esquina com a Praça do Fórum, em uma parede de 5 por 10 metros para a Cuca, galeria e boutique que o Beto Cechi me encomendou. Infelizmente foi apagada por tintas.
É bem verdade que durante a ditadura frases de “abaixo a ditadura” e de outras ordens aconteciam anonimamente e em lugares os mais inesperados. A do Tozzi não! Era um objeto instigante e não tinha um propósito como manifestação objetiva.
Essas manifestações permanecem até hoje e continuam ainda mais instigantes por não sabermos quem fez e o risco que o autor teve ao fazer na rua.
Alex Vallauri, também grafiteiro de stencil, faz suas experiências nas ruas, mas já com uma comunicação mais divertida e amena, para alegrar a cidade. Vallauri teve pouco tempo de atuação, símbolo da presença em arte urbana e ponto de referência para os artistas, foi também um marco nesse panorama do estêncil nas cidades. Pena que muito precocemente foi vitimado pela AIDS em 1987, que naquele tempo foi fatal e interrompeu sua brilhante carreira.
Também o Alex Fleming que fez na Biblioteca Mário de Andrade e na estação Sumaré uma instalação pública de uma multidão impressa nos vidros. Aí chegamos aos Gêmeos, os mais amados e cobiçados pelas galerias. Famosos no mundo inteiro, estão com a exposição “Cultivating Dreams” na Lehmann Maupin Gallery, em Nova York.
O Kobra, outro dos mais conhecidos grafiteiros e querido artista urbano entre nós, que fez o famoso Airton Senna e o Oscar Niemeyer na empena de um edifício na paulista, além de milhares de obras no mundo inteiro.
Kobra veio para Itu, onde a prefeitura ofereceu, em comodato, a Estação Ituana para que restaure e faça suas oficinas e exposições. Já é um sucesso de público e um êxito de pessoas fora do meio artístico que vão aos ateliers para conhecerem ou reconhecerem seu consagrado trabalho. Hoje, centenas de artistas se engajam na arte urbana e alguns com muito sucesso.
Nessa esteira de artistas que ocupam os muros e qualquer meio como suporte para manifestação de pintura, spray, grafitti, silkscreen e outros, alguns dos mais atuantes e consagrados na área em stencil, uma técnica que usa uma matriz que através dos vazios formam os desenhos replicáveis usando spray, estão na Pinacoteca de Jundiaí.
A exposição que reúne 11 artistas tem características interessantes: na forma como os artistas enviaram o projeto para a instalação nas paredes e da maneira como queriam que fossem colocados.
O que se vê são dezenas de obras que tem em comum além do stencil, a ironia inteligente, o humor, a qualidade das obras na execução e nos temas e até nas manifestações que provocam surpresa, como a obra da artista Simone Siss que troca a popular placa “cuidado, cachorro bravo” por “cuidado, artista brava” pendurada na grade do portão, ou então umas das obras do artista Ozi, um cachorro de desenho conhecido, pensando em um frango, também conhecido do Alex Vallauri, que assim fica lembrado e homenageado.
A exposição “Sr. Stencil”, organizada por Arthur de Oliveira, fica em cartaz até o dia 8 de setembro na Pinacoteca Diógenes Duarte Paes.
Eduardo Carlos Pereira é arquiteto e urbanista (edupereiradesign@gmail.com)