21 de dezembro de 2024
OPINIÃO

Antonio Delfim Netto


| Tempo de leitura: 2 min

Perde o Brasil uma de suas maiores inteligências. Erudição adquirida no estudo contínuo e na incansável leitura de livros que colecionou durante toda a sua profícua existência. Chegou a possuir quase meio milhão de exemplares, que ofereceu à USP como legado tangível de seu amor pela palavra.

Foi por esse motivo que o convidei a ingressar na Academia Paulista de Letras, que já possuíra um bibliófilo, José Mindlin. Modesto, DELFIM declinou do convite. “Não sou literato! Não ostento condições de estar ao lado dos “imortais” bandeirantes!”. E falou sem ironia, com a sua discreta postura de homem que sabia das coisas e que foi o mais poderoso Ministro da República durante largos anos.

O que ele foi para o Brasil em termos de gestor da economia, será bem explorado por talentos que esmiuçarão sua política, suas estratégias, seus projetos. Fico na penumbra de um convívio que começou durante os anos sessenta, mais exatamente ao final dessa década. Foi em 1969 que Jundiaí, minha cidade natal, elegeu um prefeito muito jovem, Walmor Barbosa Martins. E ele me convidou para ser seu Secretário.

Passei a vivenciar a realidade de um município que crescia, embora premido entre Campinas e a Capital. E DELFIM NETTO adquiriu ali a Fazenda Gramadão, além de um sítio na Estrada que ligava Jundiaí a Itatiba, propriedade que fora do professor de piano Jayr Accioly.

Com a impulsividade dos jovens, o Prefeito Walmor costumava procurar o Professor DELFIM NETTO para se aconselhar em relação aos rumos da cidade. E eu o acompanhava. Aprendi a ouvir lições imorredouras pronunciadas por um homem simples, afável, acolhedor. Dotado de um incrível senso de humor. Suas frases célebres passaram à História e, neste período imediato, quando afloram episódios de sua existência para os artigos que se sucederão na mídia, serão lembradas.

Mas nada como ouvir as preleções objetivas, concisas e lúcidas de quem conhecia a humanidade e conhecia o saber.

José Renato Nalini é reitor, docente de pós-graduação e Secretário-Executivo das Mudanças Climáticas de São Paulo (jose-nalini@uol.com.br)