Até 1948, o Distrito de “Rocinha” integrava o município de Jundiaí. Tornou-se Vinhedo, hoje integrando a Região de Campinas, quando deveria permanecer ligada ao seu tronco materno. A terra de Petronilha Antunes, a “Terra da Uva”, a nossa querida Jundiaí.
Pois Vinhedo está a enfrentar grave escassez hídrica. Desde maio, a Prefeitura decretou estado de crise hídrica e autorizou o serviço de água a utilizar poços e reservatórios particulares. Quem utilizar água para lavar carro, calçada ou regar jardim terá uma sanção pecuniária de R$ 663,00. A multa dobra em caso de reincidência.
Providência salutar e que mostra a situação de penúria aquática de nossa cidade-irmã. Não é a única. Artur Nogueira, também na região de Campinas, padece do mesmo mal. Baixou demais o nível da Represa Cotrins, o principal manancial de abastecimento.
Itu, o Berço da República, sofre também com a seca. A Prefeitura decretou a intervenção em trinta e seis lagos e açudes privados, para garantir a retirada de água necessária ao abastecimento da população. A Companhia Ituana de Saneamento informou que os mananciais operam com 65% de sua capacidade.
Jundiaí já enfrentou há tempos uma situação semelhante. Lembro-me de que na primeira administração Walmor Barbosa Martins, entre 1969 e 1972, houve necessidade de retirada de água do reservatório mantido por Victor Geraldo Simonsen, em sua magnífica Fazenda “Campo Verde”, um sonho que nunca mais se repetirá, porque o mecenato é uma vocação pouco frequente entre os ricos brasileiros.
A questão é que as mudanças climáticas trouxeram panorama de terror para o mundo inteiro e não poderia ser diferente em relação ao Brasil. Dez cidades paulistas estão em situação periclitante e quatro delas já tiveram o abastecimento afetado: Vinhedo, Artur Nogueira, já citadas, Bauru e São Pedro do Turvo.
A seca hidrológica é classificada como de intensidade severa. A previsão para este mês é a de seca extrema em mais de setenta municípios paulistas. Agosto será mais quente ainda, com as temperaturas chegando a 34º C. Não há expectativa de chuva e isso tem de estar no radar de todos. Não só do governo, mas da população, que deve ser instada a colaborar. Não desperdiçar água.
Especialistas em engenharia hidráulica e ambiental dizem que a pouca chuva em São Paulo não tem previsão de ser resolvida em curto prazo. Serão mais dois anos de seca. E ainda que chova em março e abril de 2025, a carga pluviométrica não será suficiente para a recarga completa dos aquíferos. O volume disponível está sendo rapidamente consumido.
A ciência já avisara que a cada onze anos se repete um ciclo cruel de falta d’água. 2025 e 2026 serão anos terríveis. Mas é preciso mais do que reprimir os incêndios criminosos, que são mais de 90% dos casos. É urgente fazer o replantio das áreas deterioradas, das quais foram subtraídas as árvores garantidoras do ciclo de chuva, o abastecimento dos aquíferos, o serviço gratuito e imprescindível dos ecossistemas, enfim, a qualidade de vida para todos.
O principal mecanismo de equilíbrio climático é a árvore. As cidades precisam ter consciência disso. Onde há sombra, a temperatura é sempre de 4 a 6 graus Celsius menor. E sem árvore, não há chuva, não há água, surgem as “bolhas de calor” que matam mais do que as ondas de frio.
Plantemos enquanto é tempo. O relógio do apocalipse teve os seus ponteiros acelerados nas últimas décadas. Não esperemos inertes o caos.
José Renato Nalini é reitor, docente de pós-graduação e Secretário-Executivo das Mudanças Climáticas de São Paulo (jose-nalini@uol.com.br)