Recentes manifestações por praças em São Paulo vêm mudando a vida urbana na cidade. Na região da Augusta, o Parque Augusta, e, no Bixiga, o parque do Teatro Oficina, ambas reinvindicações da população paulistana. O espaço do Oficina localiza-se em terreno de Silvio Santos, negociado por décadas. José Celso Martinez Correa, morto recentemente, lutou sem trégua para chegar a esse resultado e finalmente houve um acordo com o Grupo Silvio Santos, que desistiu do empreendimento que pretendia na área.
O Teatro Oficina, reconhecido internacionalmente, é projeto da arquiteta Lina Bo Bardi, tombado pelo Condephaat e pelo Iphan.
Por aqui não se veem movimentos semelhantes, mas nem por isso estamos com sobras de áreas de lazer. Parques são muitos, mas ainda falta o importante Parque da Marginal do Rio Jundiaí, que foi motivo de concurso e que não teve prosseguimento, apesar de ter projeto definido e áreas do trem de alta velocidade demarcadas.
Falo isso lembrando a decadência de clubes da cidade, como foi com o Clube São João, fundado há 102 anos e que encerrou suas atividades; o Esportiva, que, demolido, deu lugar a um conjunto de prédios bem na área sensível do centro histórico; e o do Grêmio, que, fundado há 130 anos, teve seu terreno à venda em leilão em dezembro de 2022. Estes poderiam ter sido revertidos para a população como um equipamento excelente e em localizações perfeitas para dar continuidade e incrementar o uso de seus equipamentos. Mesmo aquele que foi demolido, sem nenhuma reação pública.
Nossos clubes poderiam ter sido revertidos para a população!
Diretamente relacionadas a essa decadência de boa parte dos clubes são as desistências dos sócios, que, por um motivo ou outro, se desligam do clube, certamente e principalmente devido ao valor das mensalidades.
Estes exemplos que cito podem ser um alerta para que não aconteça mais. Clubes em decadência precisam da atenção dos prefeitos e vereadores, porque estão prontos e podem oferecer lazer para um número enorme de pessoas que moram em sua volta. E, mesmo que tenhamos parques, eles não têm os equipamentos que são aderentes aos clubes, alguns com quadra de futebol, vôlei e basquete, piscina, geralmente cobertos, e até pista de atletismo.
Esses equipamentos que a cidade possui precisam ter o acesso ampliado para a população, ou através de parcerias, patrocínios de empresas, ou do uso do direito de preempção. Áreas como Vila Arens e Ponte São João, onde não existem parques ou áreas de lazer públicas, podem ser beneficiadas enormemente, além de serem uma importante ferramenta de revitalização urbana.
Em Jundiaí são mais de 12 clubes bem consolidados. Alguns com área paisagística de grande beleza como o Uirapuru; outros com áreas enormes e muito atraentes para o mercado imobiliário, o que representa maior atração para sua extinção. São diversos os meios para a preservação de Clubes, desde a garantia de sua integridade pelo COMPAC ou pelo Plano Diretor, que podem dar diretrizes para conservação e permanência, ou pelo uso do direito de preempção, que concede ao poder público municipal preferência para aquisição de imóveis de interesse público antes de serem colocados à venda ao poder privado.
Eduardo Carlos Pereira é arquiteto e urbanista (edupereiradesign@gmail.com)