22 de dezembro de 2024
OPINIÃO

Eu vim para o futuro


| Tempo de leitura: 3 min

E se eu te disser que eu estou escrevendo esse artigo direto do futuro? Você provavelmente vai zombar de mim e não vai me levar a sério. Mas é sério. Eu estou no futuro.

Cheguei aqui há 20 dias e, no começo, não percebi a diferença. Tudo parecia exatamente igual ao presente (que agora é passado) que eu estava acostumado: pessoas com pressa indo e vindo por aí, trabalhadores, gente ocupada, até encontrar o primeiro sinal de que eu não estava mais no tempo que costumava estar.

Vi na porta de vários estabelecimentos um adesivo com a bandeira multicolorida do orgulho com os dizeres: “aqui todos são bem-vindos”. Além disso, essa bandeira tremula em vários mastros espalhados por todo canto. Demonstrações claras de que o preconceito não tem espaço aqui no futuro.

A diversidade aqui é vista em todo canto. Pessoas com turbantes dividem a mesma calçada, a mesma loja, a mesma mesa com as de chapéu de cowboy. Ninguém parece se importar com as diferenças, pelo contrário, ela [a diferença] é um atrativo para a aproximação. Aqui no futuro o medo do outro é coisa do passado. 

Aqui no futuro você não se sente um estrangeiro. Você e toda sua particularidade encontram espaço para ser exatamente o que você é. A língua que se fala pode até ser uma, até mesmo duas, mas todas as outras são bem-vindas numa torre de Babel que encontrou o paraíso.

Há problemas no futuro, claro que há. Vi uma idosa que não conseguiu vencer a dependência química entrar em um ônibus, passar mal e ser prontamente socorrida por pessoas que nunca a viram antes. No futuro, a compaixão não é exceção à regra.

No futuro as pessoas se importam com as pessoas e os conflitos viraram coisa de museu. Os políticos tentam a todo custo trabalhar para todos e manter o crescimento econômico sem ter que sacrificar o suor de muitos em detrimento do luxo de poucos.

Ainda há desigualdade no futuro. Infelizmente esse é um mal que só um futuro muito distante pode vislumbrar acabar, aparentemente. Mas pelo menos, a esmagadora maioria das pessoas possuem oportunidades justas de terem uma vida digna.

E essa vida digna do futuro passa por uma educação que ensina mais que números, fórmulas e técnicas. O humanismo resiste potente e a humanidade é matéria obrigatória do berçário à universidade e, pelo visto, são muito poucos aqueles que reprovam.

Carros modernos movido à eletricidade cortam as cidades do futuro, conectividade a serviço das pessoas, modernidades que geram conforto. Tecnologias de ponta estão disponíveis para facilitar a vida de todos e a convivência com elas é harmoniosa e democrática.

E a natureza não perde espaço aqui no futuro. Pelo contrário. Ela pede passagem para se manter exuberante e convidativa para aqueles que a tratam com respeito e carinho. Olhe para qualquer canto e veja uma pintura feita pelos próprios deuses.

“Utopia!” É o que você pode estar pensando do meu relato ou que, no mínimo, eu tenha uma imaginação fértil ou, pior, que eu esteja usando todas as hipérboles que disponho para minhas narrativas. Mas afirmo, estou no futuro.

E o futuro tem nome. O futuro se chama Canadá. 

E eu sou muito grato por ter tido o privilégio de viajar no tempo. 

Conhecimento é conquista.

P.s.: e antes que você me acuse de viralatismo, eu sou daqueles que acredita piamente que o Brasil é o país do futuro. Mas ainda não chegou lá. Vai chegar? Vai! Mas antes precisa parar de querer e insistir em viver no passado.

Felipe Schadt é jornalista, professor e cientista da comunicação (felipeschadt@gmail.com)