Jundiaí tem de zelar pela Serra do Japi, antes que a especulação imobiliária ou quaisquer outras interferências estranhas, assim como acontece em outros rincões da Serra do Mar, acabem com ela. Uma ideia seria fazer dessa belíssima doação gratuita da natureza um Distrito de Turismo Ecológico. Poderia congregar as cidades de Jundiaí, Itupeva, Cabreúva, Cajamar, Pirapora do Bom Jesus, reunidas para uma exploração racional e preservacionista desse resíduo de Mata Atlântica ainda preservável.
A ideia não é nova. São Paulo já tem um Distrito de Turismo Ecológico formado por Ibiúna, Piedade, Juquiá, Tapiraí e Miracatu, que foi o sexto a ser criado no Estado. A finalidade é atrair investimentos que transformem aquela região em uma “Costa Rica Brasileira”. Ora, a Serra do Japi lembra Campos do Jordão, que cresceu demais e já possui muitas comunidades habitacionais em desacordo com as exigências de um urbanismo responsável.
Sei de pessoas que acampam na Serra do Japi, nela encontrando, encostado à conurbação paulistana, um refúgio ecológico com enormes atrações. O “birdwatching”, esse hobby de observar pássaros, tem uma porção de seguidores. Assim como fotografar borboletas, outros animais silvestres, encontra recantos com água, algo que logo mais deverá escassear. Mas também a caminhada, a identificação de espécies nativas, os mirantes, há um sem número de atrativos que podem tornar a Serra um alvo de visitação, mas também de proteção.
Pois o resultado obtido nos demais Distritos Turísticos paulistas tem sido muito promissor. Eles já existem na cidade de Olímpia, a terra do folclore, Serra Azul, Centro, Iguape e Andradina. Foram criados pelo CIET, Centro de Inteligência da Economia do Turismo, ligado à Secretaria de Turismo e Viagens do Estado de São Paulo.
A ideia partiu do governador João Doria, que impulsionou o primeiro Distrito, o de Olimpia. A intenção era copiar o modelo de desenvolvimento da Disney em Orlando, onde os parques garantiram emprego, renda e desenvolvimento para todos. No Vale do Ribeira, a ecologia é o mote. Como pode ser a primeira ideia para o Distrito de Turismo Ecológico da Serra do Japi. Com a vantagem de que Jundiaí tem inúmeros restaurantes, chácaras e plantações de frutas, que podem se tornar um atrativo complementar à busca de espaços ecológicos.
A ecologia é a maior preocupação dos que sabem da situação do planeta, maltratado e espoliado até que resolveu dar sua resposta, e da maneira como sabe e pode: mediante reiteração de fenômenos extremos, como chuvas intensas entremeadas por estiagens preocupantes.
Ao redor da Serra poderiam também ser instalados viveiros, para venda de mudas e uma das atividades a serem praticadas pelos visitantes seria repor a vegetação naquelas feridas abertas pelas motosserras, que abriram vazios no entorno do maciço e também em seu interior.
O turismo na Serra pode ser interessante para empregar e criar conexão com os moradores locais, alguns deles angustiados pela invasão de ocupações que não respeitam a natureza e, ao mesmo tempo em que “vendem” a Serra do Japi como atrativo para seus negócios, vão tomando conta de pedaços importantes dela.
Outra vantagem do Distrito Turístico Ecológico da Serra do Japi seria obter recursos para a ampliação das áreas expropriadas pelo Poder Público, uma garantia de que a destinação será a preservação permanente e não servirão para sediar empreendimentos que a desviem de sua vocação natural de ser um santuário ecológico.
José Renato Nalini é Reitor, docente de pós-graduação e Secretário-Executivo das Mudanças Climáticas de São Paulo (jose-nalini@uol.com.br)