27 de julho de 2024
OPINIÃO

Racismo recreativo, estrutural e institucional


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De uns tempos até os atuais foram aplicadas muitas medidas tidas por “politicamente corretas”, com fim de evitar ofensas contra determinados segmentos sociais.

Exemplo clássico vem de muito longe e de origem com os chamados “black faces” – aqueles em que pessoas brancas pintavam rosto de preto, com lábios e entorno dos olhos branco ridicularizando pessoas negras acreditando que estavam praticando humor, tendo até aquele artista Americano (negro) Chris Rock que, em suas apresentações, ridicularizava seus iguais!

Vale lembrar de programas de humor, nos quais alguns personagens se apresentavam imitando gagos, como se a disfunção da fala fosse motivo para risos! De mesmo modo homens se caracterizando de mulher, idosos, pessoas com deficiência, religiosos, indígenas, LGBT, ridicularizando-as, como se essas pessoas se enquadrassem nas hipóteses que justificassem risos. Lembremos do programa Casseta & Planeta usando, de forma pejorativa, o nome da tribo indígena Tabajara, associando-a a algo falso, de baixa qualidade e afins.

Nessa mesma trilha muitas expressões repetidas no cotidiano ofendem segmentos e pessoas, tais como: “dar mancada”; “fazer negrice”; “se não faz na entrada, faz na saída”; “humor negro”; “esclarecer”; “denegrir”; “pé na cozinha”; “mercado negro”; “câmbio negro”; “lista negra”; “mulata”... Essas expressões são substituíveis sem esforço. Vejamos: “mercado negro” por “mercado paralelo”; “câmbio negro” “por câmbio clandestino”; “lista negra” por “lista de pessoas de má índole”; “denegrir” por “manchar” e por ai vai, afastando a ideia de vincular “negro” as coisas, fatos, situações ruins entre as quais a expressão “judiação”, comumente usadas para manifestar espanto diante de atos, fatos maldosos ou fenômenos violentos.

Na verdade, esse tipo de comportamento configura “racismo recreativo”, pois que as pessoas que se enquadravam e enquadram nessas situações, inequivocamente, se postam constrangidos além de elevar os motivos para exclusão na medida em que colocados em patamar de chacotas e menosprezo. 

Muito se fala também em “racismo estrutural” que passou por ensinamento “estruturante”, vez que as pessoas não nascem racistas. São estruturadas (ensinadas) a tal contaminando todo o sistema político social.

A pergunta que desponta: de onde e por qual razão isso se apresenta? Em regra, vem da ideia da supremacia de uns sobre os outros, provocando todo esse posicionamento separatista, quando, na real, em um mundo ideal, deveríamos viver e conviver com as diferenças e transversalidades, pois somos seres humanos, cada qual com suas características, no mais das vezes fenotípicas (aparência ou origem).

Infelizmente o racismo estrutural está impregnado nas estruturas da sociedade e imposta, a meu sentir, diretamente pelo material didático-pedagógico que não trata a questão com profundidade vez que de fundo e origem eminentemente ocidental, desde a mais tenra idade até academias e níveis de graduação. Exemplo clássico diz respeito ao ensinamento da história e cultura africana, afro-brasileira e indígena simplesmente ignorada ou, quando abordadas, os são de modo muito superficial facilitando sobremaneira a ideia da supremacia de uns sobre os outros na medida em que os valores, os modos, os feitos, o potencial, os ensinamentos e afins não são apresentados com devido respeito e verdade verdadeira.

Encontramos também o racismo recreativo e estrutural alcançando o “institucional” levando essa postura a organizações, grupos, empresas privadas ou mesmo públicas, permitindo que tais grupamentos passem a agir de forma coletiva, o que se comprova pela ausência da transversalidade em referidos ambientes bastando, além do “teste do pescoço” a constatação da obrigatoriedade da criação de regimes de cotas raciais e de gênero, visando a inclusão e mescla de seres humanos, enquanto busca e entrega de políticas públicas e de direitos humanos que, se não impositivas, o dominante não as inclui. Isso é real e, lamentavelmente, o desrespeito ocorre, sempre com a confiança da impunidade! É Brasil. 

Eginaldo Honorio é advogado, doutor Honoris Causa e conselheiro estadual da OAB/SP (eginaldo.honorio@gmail.com)