22 de dezembro de 2024
OPINIÃO

Falando em afetividade


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A psicóloga Ana Cristina Codarin Rodrigues e eu observávamos um macaquinho brincando com a mãe no Parque Zoológico Municipal “Quinzinho de Barros” em Sorocaba, onde nos encontrávamos com as crianças e adolescentes da Associação Socioeducacional Casa da Fonte.

Uma graça como ele não parava em torno da mãe. De repente, foi em direção a um barranco que dava no lago. De imediato, a mãe, percebendo o risco, o puxou para cima. A Ana Cristina exclamou: “Há necessidade de afeto em todas as esferas”.

Paulo Freire defendia a tese de que “educar é um ato de amor” e afirmava a importância das relações afetivas na ação dos educadores.

Jamais tive dúvida de que afeto é essencial para a formação equilibrada do ser humano e possui inúmeras manifestações: colo, sussurrar palavras de ternura, agasalhar a criança, assoprar machucados, amarrar o cordão do tênis, cozinhar com esmero...

Escreveu o escritor e biólogo de Moçambique, Mia Couto, em um conto que “cozinhar é o mais privado e arriscado ato”, pois no alimento é possível colocar tanto “ternura ou ódio”. No texto, ele também conclui: “cozinhar não é serviço. Cozinhar é um modo de amar os outros”.

Acho lindo quem se dedica a amar através do preparo do alimento. Não tenho esse dom, mas admiro demais!

Conheço gente que, pela dificuldade financeira dos pais, se alimentava com mingau de fubá. Era tanto o esmero da mãe para sair o melhor possível, que se sentia em banquete.

Afetividade é feita também de renúncia para poder ocupar-se com alguém. Às vezes ouço que fulana ou fulano, separados, com filhos pequenos, afirmam que têm direito a viver sua juventude.

Afetividade, no entanto, é o desapego de si mesmo para cuidar dos mais vulneráveis. Renúncia por alguém ou por uma causa nobre é um alto grau de afeto. Em um mundo voltado para o egoísmo, esse tipo de benquerença, infelizmente, está cada vez menor.

A escritora mineira Adélia Prado escreveu em “O que a memória ama, fica eterno”: “É que a memória é contrária ao tempo. Enquanto o tempo leva a vida embora como vento, a memória traz de volta o que realmente importa, eternizando momentos”. Que memória possui os desfeitos de afeto? Alguns buscam substâncias que mascaram os sentimentos ou são presas fáceis de inescrupulosos.

Creio que muitas atitudes de violência vêm da falta de doçura.

Agradeço muito a Deus por nossos pais, cujos olhos jamais se perderam de nos ver de alguma forma para salvaguardar. Tantas vezes foram através de preces e o Céu escuta quem carrega afeição com pureza. É do Céu que me chegam agora os olhares deles.

Domingo passado, no Santuário Diocesano Santa Rita de Cássia, o Padre Márcio Felipe, Pároco e Reitor, fez uma colocação que desejo partilhar: “Enquanto recebemos do mundo a desfiguração de nossas essência de filhos de Deus, a Cruz nos oferece a transfiguração”.

Vivemos em uma sociedade partidária da morte dos mais fragilizados; que amplia a violência sexual infantojuvenil, a violência contra mulheres e idosos; que prega a libertinagem que aprisiona a verdadeira liberdade; na qual candura se tornou motivo de escárnio; se encanta com quem fere padrões de virtudes... Desfigura-nos.

Voltando à afetividade: o aceno mais forte, que diz de Amor maior, se localiza na Cruz. Transfigura-nos.

Maria Cristina Castilho de Andrade é professora e cronista (criscast@terra.com.br)