21 de dezembro de 2024
OPINIÃO

O legado de 9 de julho


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Hoje, completam-se 92 anos da Revolução Constitucionalista, data que, desde 1997, é um feriado paulista. É um dia para relembrar a revolta que tomou conta do estado de São Paulo, em 1932, contra o governo de Getúlio Vargas. Ele havia assumido o poder, dois anos antes, com um golpe, derrubando o então presidente Washington Luís e impedindo a posse do sucessor eleito, o paulista Julio Prestes.

Com o apoio de grupos econômicos e políticos locais, os paulistas iniciaram um movimento armado para combater o governo central, que reduzira a autonomia dos estados e indicava interventores para governá-los. O conflito começou em 9 de julho de 1932 e terminou em 2 de outubro do mesmo ano, com a rendição do Exército Constitucionalista, que tinha um contingente de 35 mil soldados contra 100 mil do outro lado.

O gatilho para o início do levante foi a morte de quatro jovens paulistas pelas forças de segurança getulistas em manifestação no centro da cidade de São Paulo, no dia 23 de maio. Os confrontos na capital e no interior deixaram 830 combatentes mortos somente do lado do Exército Constitucionalista. Foi o maior conflito militar do Brasil no século 20.

Para além dos monumentos alusivos à data – como o Obelisco em frente ao Parque Ibirapuera,na capital, um mausoléu onde estão os restos mortais dos quatro jovens e de combatentes mortos – a revolução de 1932 deixou importantes legados.

Mesmo perdendo, bandeiras revolucionárias foram vitoriosas:Getúlio Vargas terminou por convocar uma Assembleia Constituinte, como queriam os paulistas, o Congresso foi reaberto e eleições gerais marcadas. A valorização da democracia, da cidadania e a participação popular também são legados do movimento.

A mobilização em São Paulo, cuja população da época era de 7 milhões de pessoas, foi geral: as cidades recrutaram voluntários e enviaram donativos, alimentos e dinheiro. Operários, comerciantes, catedráticos das universidades, industriais, jornalistas, juízes e até associações religiosas se envolveram, seja nas trincheiras, seja na retaguarda.

Vale destacar o avanço feminino ocorrido neste período. Elas costuraram fardas, serviram na enfermagem, trabalharam em fábricas e algumas até foram à guerra, segundo historiadores. Carlota Pereira de Queiroz, que dirigia o departamento de assistência aos feridos na capital e estava à frente de 700 mulheres, foi eleita a primeira deputada federal do Brasil no ano seguinte. 

A Revolução Constitucionalista deu impulso à indústria paulista, que teve papel fundamental na organização econômica para a guerra. Cerca de 500 estabelecimentos industriais foram mobilizados por um cadastro realizado pela Fiesp e pela Escola Politécnica, a Poli. Foram criadas máquinas novas e outras adaptadas para fabricar cartuchos de fuzil, bombas, granadas, munições, lança-chamas, etc.

A logística de transporte também se desenvolveu neste período, em função da necessidade de levar equipamentos aos combatentes entrincheirados por todo o estado. Trens e aviões foram bastante utilizados. Além disso, a Poli projetou e construiu trincheiras, estradas e pontes, instalou telégrafos e telefones. Os cartógrafos fizeram plantas dos diferentes setores de luta, corrigindo detalhes e modernizando as antigas.

No plano cultural, a grande herança do movimento foi a criação da Universidade de São Paulo (USP), que incorporou faculdades já existentes como a Poli. Tornou-se uma fábrica de ciência e conhecimento, um orgulho para todos.

Talvez o maior legado de 1932,porém, seja intangível: o sentimento de ser paulista.

Vandermir Francesconi Júnior é 2º vice-presidente do CIESP e 1º diretor secretário da FIESP