Foi publicado na revista "PLOS Neglected Tropical Diseases" o estudo sobre o impacto do aquecimento em doenças de Zika e de dengue em quatro cidades brasileiras, por pesquisadores da Escola de Saúde Pública da Universidade de Michigan: "Long-term projections of the impacts of warming temperatures on Zika and dengue risk in four Brazilian cities using a temperature-dependent basic reproduction number".
Os vírus da Zika e da dengue são arbovírus que são transmitidos aos seres humanos pelos mosquitos Aedes aegypti e A. albopictus. A Zika foi introduzida nas Américas em 2015, causando numerosos surtos. Como a transmissão de doenças por vetores depende da temperatura, trabalhos recentes procuram estimar como as mudanças climáticas impactarão em novas regiões. Dado os resultados preocupantes da Zika, incluindo microcefalia e síndrome de Guillain-Barré, o desconhecimento de como as mudanças climáticas influenciarão a propagação dos vírus é preocupante.
A dengue tem uma história mais longa na região, surgido nas Américas no século XVII, foi eliminada na década de 1960 através do uso de pesticidas, mas ressurgiu no início dos anos 1980. Desde então, a dengue permaneceu endêmica em muitos países da América Latina. Devido à isso, ela foi mais estudada do que a Zika e fornece um ponto de comparação útil ao considerarmos o impacto potencial das mudanças climáticas desses arbovírus.
Como resultado das mudanças climáticas, estima-se que cerca de metade da população mundial viverá em regiões geográficas que se tornarão favoráveis para a transmissão de arbovírus até o ano de 2050. Vários fatores tornam o Brasil particularmente vulnerável além dos impactos das mudanças climáticas. Entre eles, destaca-se o desmatamento na região amazônica, bem como o aumento generalizado das temperaturas, ambos favoráveis à reprodução de mosquitos.
Surtos de arbovírus, como o surto de Zika no Brasil em 2015, também foram atribuídos em parte às condições de El Niño daquele ano, o Aedes aegypti, o principal vetor da Zika e da dengue, é particularmente adaptado para condições quentes e úmidas. Assim, o Brasil é uma região importante para estudar o potencial de transmissão da Zika, conforme destacado por projeções globais da Zika.
Os pesquisadores utilizaram um modelo matemático do impacto de vetores dependentes da temperatura no risco de doenças. Com os dados de temperatura de 2015 a 2019 e projeções para 2045 a 2049, tiveram como resultado que o potencial epidêmico da Zika aumentará além dos níveis atuais no Brasil em todos os cenários climáticos.
A estação de risco de arboviroses para o Rio de Janeiro aumentará cerca de três meses, a de Zika em Recife aumentará cerca de dois meses. Com temperaturas mais baixas, São Paulo está no limite, não configurando estar livre. Já Manaus, os pesquisadores estimam que em alguns anos a região terá temperaturas muito altas, favorecendo a transmissão do Zika. Assim, medidas de contenção são necessárias e urgentes. Um trabalho para todos os governos federal, estaduais e municipais, incluindo senadores, deputados e vereadores!
Mario Eugenio Saturno (fb.com/Mario.Eugenio.Saturno) é Tecnologista Sênior do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e congregado mariano