16 de julho de 2024
OPINIÃO

A ordem é descarbonizar


| Tempo de leitura: 3 min

O mundo está sendo envenenado pela crescente emissão de dióxido de carbono e outros gases venenosos causadores do efeito-estufa. O resultado é o aquecimento global que causa mudanças climáticas. São fenômenos extremos que todo o planeta enfrenta. Os exemplos brasileiros do Rio Grande do Sul, de São Sebastião, de Teresópolis e de outros lugares deveriam bastar para que as pessoas tivessem mais juízo.

O grande vilão da emissão é o automóvel, movido a combustível fóssil. O motor a gasolina é o mais poluente: emite 155 g/km. A gasolina brasileira com 27% de etanol emite 131 g/km. O Híbrido com gasolina baixa para 94 g/km, o híbrido com gasolina brasileira emite 80 g/km, o elétrico com matriz energética europeia baixa para 54 g/km, o flex com etanol para 37 g/km, o elétrico com matriz energética brasileira emite 35 g/km e o híbrido flex com etanol chega a 29 g/km.

Existem, portanto, opções disponíveis para a efetiva redução das emissões dos GEE. As montadoras que atuam no Brasil fizeram lobby para que o país optasse nos carros híbridos, em detrimento dos elétricos. Isso porque ainda existe necessidade de investimento em infraestrutura. O carro elétrico precisa ser recarregado e o Brasil ainda não tem uma estrutura de recarga suficiente para uma troca quantitativa de grande alcance.

Por outro lado, tem-se aqui o etanol, um combustível limpo. E embora haja uma grande frota de carros híbridos, também disponível uma rede ampla de distribuição, apenas trinta por cento dos proprietários de carros híbridos abastecem com etanol. Setenta por cento deles ainda prefere abastecer com gasolina, embora sabendo que ela é mais poluente.

O projeto “Mover”, do governo, adotou o método chamado de “poço à roda” para contabilizar as emissões de GEE nos automóveis. Cálculo que se faz desde a produção do combustível até o uso do veículo. Sabe-se que o etanol, feito à base de cana, tem uma rastreabilidade favorável. O cultivo da cana-de-açúcar absorve gás carbônico da atmosfera e, com isso, compensa as emissões do carro movido pelo combustível verde.

Nos demais países, vigora a metodologia “do tanque à roda”, que mede apenas as emissões do escapamento. Isso faz com que o carro elétrico fabricado na Europa ou na China chegue ao Brasil com emissões maiores, porque a energia que se utiliza nesses países ainda provém, ao menos em parte, de usinas a carvão.

Acredita-se que o uso de etanol permita ao Brasil cumprir, até 2030, sua meta de 50% de descarbonização, considerados os índices de 2015. A vantagem é que os veículos híbridos não implicam em disrupção do modelo vigente de produção. Para carros elétricos, a abertura de novas plantas geraria fechamento de fábricas e demissões em massa.

Só daqui a dez anos é que os carros inteiramente à bateria devem de fato entrar no mercado brasileiro. A China adotou o modelo disruptivo, pois toda a sua indústria automotiva foca em modelos elétricos. Mas aqui no Brasil, ela aderiu aos híbridos. Tanto que na fábrica a se inaugurar no segundo semestre, a Great Wall Motors – GWM, produzirá apenas SUVs híbridos plug-in, que podem ser recarregados na tomada e também receberem combustível normal.

Isso interessa a todas as pessoas, tenham ou não o seu carro. Para os motoristas e possuidores de veículo, seria interessante dar uma contribuição para a descarbonização. Por exemplo: um dia da semana sem usar carro. Servir-se do transporte coletivo. Fazer transporte solidário. O carro com um só passageiro, é o veículo mais egoísta do planeta. E este, doentinho, precisa de nós para dar uma folga na intensa emissão de veneno. Vamos colaborar com a recuperação da saúde da Terra?

José Renato Nalini é Reitor, docente de pós-graduação e Secretário-Executivo das Mudanças Climáticas de São Paulo.(jose-nalini@uol.com.br)