A Epístola a Filemon é a carta mais curta do Novo Testamento, é um bilhete que mal mereceria um artigo, mas seu conteúdo é riquíssimo. Primeiro, Paulo escreveu de próprio punho. Sabe-se que Filemon possuía um escravo chamado Onésimo. Filemon era cristão, Onésimo não. O escravo fugiu, buscando abrigo junto a Paulo, que naquele momento estava na cadeia. Paulo converte Onésimo e decide devolvê-lo a Filemon, escrevendo-lhe para que o acolha como irmão.
Tudo indica que Filemon tenha sido convertido à fé por iniciativa de Paulo: “É claro que não preciso fazer você se lembrar de que também você me deve a sua própria vida” (Fm 19). Filemon morava em Colossas, conforme a carta aos Colossenses, que nos mostra que Tíquico seja o portador da carta à comunidade de Colossas. Junto com ele vai Onésimo: “O querido irmão Tíquico, ministro fiel e companheiro no Senhor... Com ele vai Onésimo, nosso querido e fiel irmão, e que pertence ao grupo de vocês” (Cl 4,7-9).
Não se fala de Filemon na carta aos Colossenses. Estudos recentes afirmam que em Colossas havia pelo menos dois núcleos cristãos: aquele que recebeu a carta aos Colossenses e um subgrupo que se reunia na casa de Filemon (conforme Fm 2).
O fato de possuir um escravo doméstico (e talvez mais) também situa Filemon num nível social elevado, econômico e político. Além disso, no bilhete que escreveu, Paulo o chama de koinonós (palavra grega que se traduz por “irmão na fé”, mas significa sócio comercial).
A devolução de Onésimo trará consequências, Paulo pede que Filemon o acolha como irmão, ou seja, que rompa de vez com o sistema escravagista em nome do Evangelho.
Paulo acrescenta um pedido a Deus: “Peço a Deus que a participação (koinonia) que você tem na fé seja eficaz para compreender que todos os bens que temos são para Cristo” (6). Koinonia, no mundo greco- romano, era a associação de pessoas livres. Na casa de Filemon pratica-se a koinonia, que pode ser traduzido também por partilha. Paulo pede que essa koinonia praticada seja eficaz.
Ao escrever de próprio punho esta carta (19), diferentemente das outras cartas, normalmente ditadas, é um sinal de que Paulo se encontra em situação precária. De fato, Paulo recorda a Filemon sua condição de prisioneiro (9 e 13) e não receia dizer que está velho (9), teria entre 50 e 55 anos.
A carta a Filemon serve muito bem para fazer-se um aprofundamento das novas relações geradas pelo anúncio do Evangelho. A vida das pessoas e suas relações transformam-se radicalmente a partir do anúncio fundamental da morte e ressurreição de Jesus. Um novo eixo em que as pessoas adquirem novo sentido e novo rumo para suas vidas.
A Salvação é gratuita, mas alguém que tenha o coração tocado por Jesus (pela doutrina cristã) não consegue mais viver da mesma forma, não consegue ver um irmão ou futuro irmão em condição degradante, humilhante, em situação de miséria e fome. Acreditar em Jesus é querer uma revolução social, pelas armas do Evangelho e do Terço, tendo como munição palavras de paz e de amor. Um cristianismo eficaz!
Mario Eugenio Saturno é Tecnologista Sênior do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e congregado mariano.