16 de julho de 2024
OPINIÃO

Quente, frio e seus intermediários


| Tempo de leitura: 3 min

Nesta época de início de inverno torna-se frequente o atendimento de gripes, resfriados e sinusite mal curadas no meu consultório. A acupuntura é muito interessante para minimizar os sintomas e encurtar os tratamentos, principalmente em quadros recorrentes.

“Com o clima variando de quente para frio em poucos dias” - falam muitos dos meus clientes - “não há corpo que aguente!” - concluem categoricamente. Existe esse tipo de influência do clima sobre a nossa saúde? Como ela se processa?

Da ótica tradicional da medicina tradicional chinesa (MTC), a mudança das estações não se constitui somente na variação de tempo e intensidade na incidência dos raios solares. Segundo esse conhecimento, ocorre uma alternância da própria potência yang - mais relacionado com o calor, com o avanço e desenvolvimento da vida - e a potência de natureza yin no ambiente - sendo está mais relacionada com o recolhimento e preservação de energia, típica dos meses de outono e inverno.

A MTC ainda postula que, para se manter saudável, o corpo deve acompanhar as mudanças climáticas se adaptando a elas. Com o estudo da fisiologia moderna, sabemos hoje a série de adaptações que o nosso corpo produz para “funcionar” melhor em ambientes de frio ou de calor.

Como exemplo, no calor do verão produzimos mais suor e perdemos mais líquidos pelos poros. Isto é um mecanismo eficaz de perda de calor, muito importante, já que o nosso próprio metabolismo gera calor e por isso, no clima quente, podemos facilmente “superaquecer”.

A teoria da MTC vê essa circulação aumentada de líquidos próximo a superfície (pele) do nosso sistema como um recurso importante contra o aumento desmedido da potência yang, manifesta no aumento do calor corporal e do metabolismo, mas essa ação protetora contra o aquecimento deixa as suas barreiras naturais de defesa no tecido em contato com o ambiente mais “frouxas”, justamente para haver a troca térmica.

Uma mudança brusca de temperatura, digamos, uma frente de ar frio que “derruba” as temperaturas em dez graus em questão de horas, pode gerar um desafio para os corpos não tão saudáveis se adaptarem no mesmo ritmo, fazendo com que a energia do metabolismo se perca e se esvaia. Na medicina contemporânea diríamos que estamos em um momento de baixa imunidade, onde podem prosperar colônias de bactérias e mesmo vírus que se aproveitam do momento para crescerem.

Numa linguagem mais tradicional, diríamos que sofremos uma “invasão” do vento-frio, o nome do padrão energético que é vinculado com essas mudanças climáticas e que facilita a proliferação de colônias bacterianas e virais que se deliciam com o frio e corpos desprotegidos e com poros abertos.

As ações da Acupuntura e a Fitoterapia quando aplicada da maneira tradicional visam principalmente aumentar a “agilidade” do corpo em responder e se adaptar à essas condições, produzindo uma constrição dos vasos superficiais e aumentando a temperatura interna, para um extra de aquecimento diante do frio inesperado.

Nada mais que a aplicação sistematizada e eficaz da sabedoria do chá de gengibre e do cachecol para as mudanças bruscas dos nossos dias Dr Alexandre Martin é médico especialista em acupuntura e com formação em medicina chinesa e osteopatia.