16 de julho de 2024
OPINIÃO

Intimidade com Deus


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A intimidade com Deus vem do dia a dia com Ele. Contudo, quanto mais tempo passa, percebo os empecilhos que coloco que me impedem esse convívio que responde a todos os meus anseios.

Hoje, repito palavras da oração de Santo Agostinho a partir de sua conversão: “Tarde Te amei, ó Beleza tão antiga e tão nova... (...) Eu era inquieto, alguém que buscava a felicidade, buscava algo que não achava... Mas Tu Te compadeceste de mim e tudo mudou, porque Tu me deixaste conhecer-Te. Entrei no meu íntimo sob a Tua Guia e consegui, porque Tu Te fizeste meu auxílio. (...) Tu estavas dentro de mim e eu fora...  (...) Mas Tu me chamaste, clamaste por mim e Teu grito rompeu a minha surdez... Fizeste-me entrar em mim mesmo... Para não olhar para dentro de mim, eu tinha me escondido. Mas Tu me arrancaste do meu esconderijo e me puseste diante de mim mesmo, a fim de que eu enxergasse o indigno que era (...) Exalaste Teu Perfume e respirei. Agora suspiro por Ti, anseio por Ti! Deus... de Quem separar-se é morrer, de Quem aproximar-se é ressuscitar, com Quem habitar é viver.(...)”

Quanto a mim, tarde constatei que, inúmeras vezes, considero a graça de Deus como atributo meu e deixo de perceber a misericórdia do Senhor comigo. Tarde percebi, como coloca Dom Joaquim Justino Carreira (1950 -2013) em seu livro “Trevas ou Luz”, todas as vezes que quero tomar o lugar de Deus é a idolatria do próprio ‘eu’. E a idolatria do eu tem três manifestações fundamentais: o domínio, o vitimismo e a mágoa. O Senhor, porém, em Sua misericórdia me alertou e me trouxe mais perto dEle.

Para me enxergar em minhas misérias, desde os 16 anos, tenho um Sacerdote como meu Diretor Espiritual. Há alguns anos, é o Padre Márcio Felipe de Souza Alves, atual Pároco e Reitor do Santuário Diocesano Santa Rita de Cássia, que me ajuda muito em minha caminhada de fé.

Após conversarmos sobre minha conclusão, indicou-me para ler o Evangelho da Transfiguração de Jesus, que três evangelistas narram: Mateus, Marcos e Lucas. Após o anúncio da paixão, Jesus subiu a um monte bem alto e levou Pedro, Tiago e João, diante dos quais Se transfigurou.

Seu rosto brilhou como o Sol e as vestes ficaram brancas como a luz. Apareceram-lhe Moisés e Elias para conversar com Ele.  Uma nuvem luminosa os envolveu e uma voz, saída da nuvem, disse: “Este é o Meu Filho amado, no qual pus toda a Minha afeição; ouvi-O” (Mt 17, 1-9). É a glória de Jesus e se antecipa à Sua vitória sobre a cruz.

Jesus não quis sequer a glória que Lhe pertencia, pois podendo ser tratado como Deus, assumiu a forma de servo, de escravo.

Depois da alegria experimentada em um momento de intensa oração com o Mestre, é necessário pôr-se a caminho com Jesus, que sobe a Jerusalém para doar a própria vida. Jesus é chamado a salvar os seres humanos não por meio do triunfo, mas de derrota. A maneira de Deus para instaurar o Seu Reino não é o domínio, mas o dom de si mesmo.

É preciso seguir com coragem o percurso feito pelo Mestre. Não existe outro caminho além daquele de Cristo, aquele que chega à ressurreição, passando pela cruz.

A graça de Deus não é aptidão minha, é amor misericordioso dEle, que me mostra frestas do Céu e me convida a não perder os passos e os olhos da cruz.

Maria Cristina Castilho de Andrade é professora e cronista (criscast@terra.com.br)