23 de novembro de 2024
OPINIÃO

Turismo tem de ser responsável


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O turismo é uma indústria, no melhor sentido da palavra, que o Brasil não pode negligenciar. Se a distância que nos separa dos países mais ricos é enorme, precisamos compensar o deslocamento de seus nacionais com serviços impecáveis, acolhimento de primeira e a certeza da segurança dos visitantes. Em desfavor do Brasil, a ocorrência de assassinatos, roubos, furtos e outras infrações que fazem sugerir que aqui não existe ordem e a polícia não funciona.

A exuberância de nosso território, cuja dimensão propicia a oportunidade de se conhecer inúmeros biomas e diversos climas, a beleza de nosso litoral, com variedade que inexiste em outros lugares do planeta, são ativos de indiscutível valor.

É importante a emissão de trinta e um mil selos “turismo responsável”, índice atingido em 2022. Boa iniciativa, lançada em junho de 2020, que estabeleceu protocolos sanitários contra a Covid19, para quinze atividades turísticas. Foi um dos dez primeiros países do mundo a implementar essa medida. Só que não basta a boa intenção. É preciso monitorar e ser rigoroso na fiscalização, além de, gradualmente, inserir novos requisitos para que o aprimoramento seja contínuo.

Não se trata de mero marketing. O Turismo Responsável tem de promover práticas concretas e comprováveis. O mundo hoje se tornou pequeno e o movimento nos aeroportos mostra que viajar é uma ocupação rotineira para milhões de seres humanos. Um país como o nosso terá muito a oferecer à sua juventude, se encarar o turismo como uma das principais atividades estimuladas pelo Estado. Inúmeras as profissões que nascem com o turismo levado a sério: guias, chefs de cozinha, cozinheiros, garçons, cantores, instrumentistas, personal trainers, arrumadeiras, jardineiros, floristas, etc. etc.

Existe ainda a vertente do turismo interno, que ganhou força com a necessidade que os moradores dos grandes centros urbanos têm de, a cada final de semana ou feriado prolongado, sair em excursão, em busca da natureza, da tranquilidade campestre, já inexistente nas agitadas conurbações.

A Universidade de São Paulo, uma das melhores do mundo, lançou o livro “Turismo Responsável: resultados que inspiram!”, no Portal de Livros Abertos da USP. Foi organizado pelo Centro de Estudos de Turismo e Desenvolvimento Social – CETES da USP e oferece uma análise do que significa esse conceito, com as diretrizes práticas e, como exemplo incentivador, apresenta dez casos exitosos. Inspiradores de organizações que implementaram práticas responsáveis em suas atividades de turismo. A publicação também contou com a colaboração do Instituto Vivejar, organização sem fins lucrativos especializada em turismo responsável e comunitário no Brasil.

O Turismo não pode ser mais uma atuação amadora, empírica, de diletantes. Hoje o turista é conhecedor de seus direitos, pois o Código de Defesa do Consumidor foi uma das poucas leis que “pegaram” nesta República em que inúmeras normas são menosprezadas e se tornam letra morta.

Quem levar a sério o Turismo Responsável tem condições de lucrar muito mais do que aquele que se aventura sem ter consciência de que é preciso empenhar-se muito para oferecer um excelente produto, algo que seja diferente e melhor do que aquilo que já existe.

É recomendável a leitura desse livro, o terceiro volume da Coleção Cadernos Aplicados de Turismo, pensada especificamente para gestores de destinos turísticos, secretários de Turismo das municipalidades e técnicos de turismo que sentiam falta de material prático e viável nessa área.

Todas as cidades brasileiras têm potencial para exploração turística. O discernimento das Municipalidades é que terá de descobrir a veia mais apropriada e que melhor sirva às expectativas de quem se propõe a visitar a localidade, além de favorecer a mão-de-obra local, de forma a capacitá-la ao bom desempenho dos misteres que tornarão o local um ponto obrigatório de interesse de potenciais turistas.

José Renato Nalini é reitor, docente de pós-graduação e Secretário-Executivo das Mudanças Climáticas de São Paulo (jose-nalini@uol.com.br)