16 de julho de 2024
OPINIÃO

Mentes transtornadas


| Tempo de leitura: 3 min

Cito uma colocação da Madre Teresa de Jesus, Priora do Carmelo São José, após lhe contar um fato recente: “Quanta violência e maldade nos corações, ou nas mentes transtornadas”. Verdade! Há tanta gente que não se contém. Há inúmeras crianças e adolescentes que não são criados de forma que consigam ouvir “não” ou dizer “não” a si mesmos. Isso é um desastre. Onde foi parar o exercício para o autocontrole? Faltam também conversas sobre consequências funestas da violência que cresce.

Alguém avisou o indivíduo, em uma noite de mau agouro, que a amada está com o outro. Mexeu com seu “poder másculo” e ele transformou o rival em cadáver com requintes de crueldade.

Foragido, ao ser flagrado pela polícia, tentou escapar por um local em que crianças poderiam ser atingidas. Passou e passa por cima da lei. Não pensou e nem se importou. Os policiais seguiram pelo mesmo espaço, com os olhos, em faíscas, somente nele. Nesse fato, contudo, um policial se deteve por instantes e falou consigo mesmo: “Quantas crianças!” Segundos suficientes para colocar os pequenos e um pouco maiores em espaço fechado.

Acontecimento como esse pode se transformar em chacina. Não tenho dúvida alguma.

Acabou detido. Lamentam há tempo a família da vítima. Lamentam agora, também, alguns de laços de sangue do executor.

Como é possível banalizar assim o ser humano? Desde que consiga atingir os seus intentos, o próximo é visto como alguém que merece ser “eliminado” do mundo. E o número de motoristas embriagados, sem controle na direção? E o número de pessoas armadas sem a devida licença e equilíbrio? Ou mesmo com arma branca?

Crianças choraram de medo ao ver policiais com a arma em punho. Choraram durante e depois. Vizinhos, assustados com ele pelos arredores - temiam uma troca de tiros -, passaram as últimas semanas com as portas e janelas fechada. Comemoraram a ação policial, contudo receiam que ele volte logo para as ruas.

Mentes transtornadas me parece que agem apenas em função de si. Transportaram o cordão umbilical para as barbáries. Que tristeza, meu Deus!

Dom Henrique Soares das Costa (1963-2020), na época Bispo de Palmares – Pernambuco -, escreveu certa vez: “Hoje, assistimos, impressionados, a paganização do mundo, e perguntamos: onde está a realeza de Cristo? –Onde sempre esteve: na Cruz! O Reino de Jesus não é segundo o modelo deste mundo, não se impõe por guardas, pela força, pelas armas: ‘meu reino não é daqui!’ É um Reino que vem do mundo de amor e da misericórdia de Deus, não das loucuras megalomaníacas dos seres humanos”.

Para quem crê, as palavras de Dom Henrique iluminam. O Reino dos que têm fé não é deste mundo, o caminho para ele passa pela Cruz, sem esbravejar, mas no silêncio que leva à intimidade com Deus.

Para quem não crê, o sofrimento, igualmente, de uma forma ou de outra, acontecerá em sua história. Uma postura cotidiana sem limites, causará mais dor.

Temo o raciocínio da geração do celular sem controle, dos problemas mentais sem tratamento, da educação familiar sem demarcações, do prazer desmedido, dos preconceitos de todas as formas, do desconhecimento da misericórdia.

Mentes distorcidas e sem amor, muitas vezes filhas da brutalidade, destroem faces humanas inocentes e se tornam feras.

Maria Cristina Castilho de Andrade é professora e cronista (criscast@terra.com.br)