27 de dezembro de 2024
OPINIÃO

Camões, 500 anos


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O ano de seu nascimento é incerto (1524 ou 1525?), por isso fica difícil cravar com precisão que estamos a comemorar com justeza seu quinto centenário. Sabe-se que o poeta português Luís Vaz de Camões morreu em 10 de junho de 1580, em Lisboa, a capital do então vasto império português. Nessa data, comemora-se o Dia de Camões. Originalmente, o 10 de junho aparece no Estado Novo salazarista. O governo ditatorial de Oliveira Salazar comemorava o “Dia de Camões, de Portugal e da Raça”.

Com os ventos da democratização, soprados a partir da Revolução dos Cravos, em 1974, e das primeiras eleições livres, em 1975, o 10 de Junho passou a ser o Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas (os países lusófonos, ou seja, falantes da língua portuguesa). Homenagem ao maior poeta do idioma, autor da epopeia “Os Lusíadas” e de tantos poemas memoráveis. Sujeito de formação erudita, conhecedor de poetas clássicos, não se sabe, no entanto, como adquiriu tal conhecimento. Teria frequentado a Universidade de Coimbra, entre as décadas de 1540 e 1550, mas não há registro de sua passagem como estudante matriculado. Houve um sacerdote de sobrenome Camões, tio do poeta, chanceler da universidade, e quem sabe um dos responsáveis pela educação formal do escritor.

De família fidalga, mas sem grana, Luís Vaz frequentou a Corte, em Lisboa, onde arrumou encrencas que lhe custaram a liberdade. Está registrada sua prisão na Cadeia do Tronco, na capital portuguesa. Entre exílios voluntários ou forçados, o poeta passou dezessete anos desterrado de Portugal, em lugares tão distantes da terra natal como a africana Moçambique, ou nas asiáticas Índia e China. De sua vida brotam lendas, inverossímeis num rápido examinar de circunstâncias. Duas delas: teria morado debaixo de três rochas dispostas em arco, a turística “Gruta de Camões”, na chinesa Macau, e ali escrito parte de sua famosa epopeia; teria preferido salvar os originais de seu poema narrativo a salvar a namorada, em naufrágio no Mar da China, próximo do rio Mekong. Patacoadas extraordinárias em torno de biografia de escassa comprovação documental.

Sabe-se da penúria em que passou a maior parte de sua existência. Um exemplo: no retorno da China para Portugal, o poeta permanece um tempo em Moçambique. Um amigo vai encontrá-lo por lá em situação miserável e o ajuda a voltar para casa. Há provas de Camões, combatente da Marinha portuguesa, ferido em Ceuta, no atual Marrocos, ou do funcionário da Coroa na possessão de Macau, na China. Assim como registrado está o lançamento da primeira edição de “Os Lusíadas”, em 1572. E o pagamento de pensão ínfima anual concedida ao poeta pela publicação dedicada ao então rei Dom Sebastião. Quando morreu, o autor foi enterrado em vala comum. Seu túmulo, no Mosteiro dos Jerônimos, em Lisboa, foi erigido somente em 1880, no terceiro centenário de sua morte. Tem imenso valor simbólico, ainda que não se saiba com precisão se a ossada para lá transladada seja mesmo a de Camões. Em meio a tantas dúvidas, brota uma certeza: a da genialidade do poeta. Dentre os gigantes, o maior. 

Fernando Bandini é professor de literatura (fpbandini@terra.com.br)