23 de novembro de 2024
OPINIÃO

A brasilidade na Casa Cor


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Como em todos os anos, nesse não será diferente, pois milhares de pessoas interessadas em decoração e arquitetura irão passar pela Casa Cor SP, inaugurada essa semana no espaço do edifício do Conjunto Nacional, uma área de reserva técnica e ampliação, onde a exposição já acontece há dois anos. A novidade será a referência brasileira no popular. Difícil acreditar, já que são sempre produções grandiosas, luxuosas e caríssimas muito distante do que seria popular. Mesmo assim estão indicando que fizeram uma ligação com o popular, nos pisos de barro e na cor de cerâmica clara que parece se repetir em quase todos os ambientes em toalhas caipiras bordadas, tricôs artesanais e mais. Algumas referências parecem que estão corretas, agora o projeto de interiores começa pelas obras de arte, o que equivale a ter obras ou comprar obras de arte boas. De qualidade e de referência brasileira na história da arte ou na arte contemporânea.

O que coloca em xeque as inúmeras decorações que estão fazendo uso de móveis planejados e "quadros" de mau gosto como aqueles que são pseudoabstratos com pinceladas que tentam passar por obras de qualidade. Não são bons nem os artistas, que não têm formação em artes, nem curriculum em exposições, muito menos conteúdo no trabalho, que justifique ser contemplado com uma parede na casa de alguém. Se agora isso se firma como tendência, pode colocar muita gente em status duvidoso e de mau gosto ao colocar na parede uma obra sem qualidade. Com o reconhecimento internacional da arte brasileira antiga e atual na Bienal de Veneza e na SP Arte, não se pode virar as costas para os bons artistas brasileiros.

Esses precisam ser prestigiados e comprados para serem colocados nas paredes de quem quer ter bom gosto. Somente um carro sofisticado não garante status. Para a compra de um quadro, é preciso ter orientação de quem conhece arte. E, principalmente, que tenha conhecimento para apresentar os bons artistas, mesmo que não sejam tão famosos ou tão caros. Quando evocam, na Casa Cor, Lina Bo Bardi, que fez a cultura brasileira olhar para o que é popular e o que é bom, além de fazer seus desenhos de móveis os mais genuínos e reconhecidos do país, além de Zalszupim, temos que falar dos outros.

Por aqui em, 1971, Beto Cecchi abriu na Cuca, uma galeria que apresentou em sua agenda Claudio Tozzi, Lothar Charoux e outros artistas que já tinham muito valor e que quem comprou obras ali hoje continua com elas e com muito orgulho. Mas podemos apresentar uma lista pequena do que pode ser adquirido pra iniciar uma coleção e até seus preços. Claudio Tozzi a partir de R$ 12 mil, Vera Ilce Monteiro Cruz, a partir de R$ 2 mil, Roberto Micoli a partir de R$ 15 mil e os jundiaienses, o Inos que na internet é o mais popular, com preços mais acessíveis. Yeda Sandoval com suas recentes esculturas em acrílico por volta de R$ 7 mil, inéditas, Vera Lucchini que, sob consulta, talvez vendas suas assemblages, Ronaldo Weigand que considero o único artista abstrato que tem qualidade e contemporaneidade para oferecer uma obra e pode ser consultado em seu site. Arquitetos e decoradores podem se inspirar na Casa Cor, uma deixa pra mudar o jeito de fazer agora.

Eduardo Carlos Pereira é arquiteto e urbanista (edupereiradesign@gmail.com)