21 de novembro de 2024
OPINIÃO

A tragédia climática do Rio Grande do Sul


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Nos últimos dias, temos assistido a cenas inimagináveis na tragédia climática que acomete o Rio Grande do Sul. Cidades inteiras devastadas pela força das enchentes, cavalo içado do terceiro andar de um prédio em São Leopoldo, dezenas de carros enterrados numa espécie de cemitério de automóveis em Eldorado do Sul, um mar de botijões flutuando em Canoas, o aeroporto de Porto Alegre tomado pelas águas.

Fora os dramas humanos, com mais de 150 vidas que se foram e milhares de famílias que perderam absolutamente tudo - vale lembrar que 90% dos municípios gaúchos foram atingidos. São cenas comoventes que permanecerão para sempre na memória das testemunhas dessas cheias históricas, que deixaram 540 mil desalojados e 80 mil desabrigados.

Infelizmente, até pela geografia local, levará semanas para as águas baixarem. Só o tempo dirá como e a que custo o estado irá se reerguer. Mas serão anos de reconstrução. Segundo a Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs), 94,3% da atividade econômica estadual foi afetada, sendo que os locais mais atingidos incluem os principais polos industriais gaúchos.

Ainda é difícil dimensionar as perdas econômicas, de acordo com o governo estadual. Estimativas preliminares dão conta de uma queda de 2% no PIB gaúcho este ano, com impacto no PIB nacional de até 0,4 p.p.. Este percentual representa R$ 90 bilhões. Isso seria para reconstruir tudo como era, o que não acontecerá porque parte das cidades terá de ser reerguida em outro lugar, ou seja, o valor deverá ser mais alto.

Além disso, diferentemente da pandemia, uma infinidade de empresas teve suas dependências totalmente comprometidas, com danos imensos ao capital. A infraestrutura do estado foi gravemente afetada, com a destruição de rodovias e pontes, trazendo problemas logísticos para as cadeias econômicas locais.

Na agricultura, o dano também é considerável. Para além das lavouras inundadas, os solos encharcados devem comprometer o plantio de arroz e trigo. Há ainda perdas de maquinário, tratores e caminhões, inviabilizando a próxima safra de culturas importantes.

A situação na educação é preocupante. As perdas de aprendizagem da pandemia mal foram recuperadas e cerca de 360 mil crianças e adolescentes gaúchos se viram sem aulas. O Ministério da Educação (MEC) estima que 1.033 escolas de um total de 2.338 foram danificadas. O MEC não permitiu o ensino remoto, mas flexibilizou o cumprimento de dias letivos, que poderão ser integralizados até 2025.

Dos 360 mil estudantes impactados, 149 mil já retomaram as aulas. Ainda assim, muitas escolas seguem servindo de abrigo e outras estão seriamente danificadas. Corretamente, o governador Eduardo Leite declarou que as escolas são prioridade absoluta na reconstrução.

O governo federal vem anunciando uma série de medidas de apoio ao estado e aos gaúchos, como o benefício de R$ 5.100 para famílias que perderam móveis, eletrodomésticos e outros objetos nas enchentes; compra de 14 mil imóveis para a população; crédito para empresas; e o adiamento, por três anos, da dívida do estado com a União, entre outras iniciativas. Calcula-se que a ajuda divulgada até agora represente cerca deR$ 45 bilhões.

São medidas importantes, mas paliativas diante da catástrofe em curso. Se nada for feito diferente, outras tragédias virão. O fato é que o aquecimento global, e consequentemente os extremos climáticos, estão aí. Cabe aos governantes e à sociedade mudarem de atitude diante da natureza e acelerarem a descarbonização da economia para conter as mudanças no clima antes que seja tarde demais.

Vandermir Francesconi Júnior é 2º vice-presidente do CIESP e 1º diretor secretário da FIESP (vfjunior@terra.com.br)