22 de dezembro de 2024
OPINIÃO

Bambu como solução energética


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O Fórum econômico do G20 divulgou uma interessante iniciativa africana, a substituição de carvão de madeira por bambu. O esforço bem sucedido da Divine Bamboo, de Uganda, e que recebeu um certificado cinco estrelas da FAO, Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura.

A Organização Mundial da Saúde, OMS, estima que 2,8 bilhões de pessoas em todo o mundo ainda dependam do carvão e da biomassa para as necessidades diárias de cozimento e aquecimento, e as energias renováveis representam apenas 17% do consumo mundial de energia. A falta de acesso a combustíveis limpos e acessíveis para cozinhar é um dos maiores desafios de Uganda, com 94% da população totalmente dependente de lenha e carvão, o que leva a uma perda anual de mais de 200.000 acres de floresta a cada ano.

O bambu foi reconhecido como um importante recurso na erradicação da pobreza e na proteção ambiental devido à sua resistência, retidão, leveza, extraordinária dureza, variedade de tamanhos, abundância, facilidade de propagação e período de crescimento curto que o torna adequado para uma variedade de propósitos e usos.

E também aparece como um potencial recurso florestal não madeireiro para substituir a madeira. Além disso, é especialmente adequado para a agrofloresta, com muitos usos, como consorciação de culturas, filtragem de água, reabilitação de áreas úmidas, fornecimento de materiais de construção e forragem. É ainda eficaz para a conservação do solo, reduzindo a erosão e, dada sua estatura resiliente, pode ser útil para a reabilitação de terras degradadas. O extenso sistema de rizomas e raízes interconectados com estrutura de rede do bambu une efetivamente o solo superficial e impede a erosão em lençóis e sulcos.

O bambu tem um período médio de rotação de 4 anos, requer manutenção mínima, sem necessidade de fertilizantes ou pesticidas, e pode ser integrado tanto em sistemas agroflorestais quanto em sistemas agrícolas mistos. O bambu é um sumidouro de carbono, absorvendo dióxido de carbono e liberando 30% mais oxigênio na atmosfera em comparação com uma massa equivalente de árvores. Isso ocorre porque pode ser colhido regularmente, criando uma grande quantidade de produtos duráveis que armazenam carbono por vários anos, além do carbono na própria planta.

O custo da produção do briquete de bambu aliado à maior duração de queima leva o consumidor a economizar até 30% de seus gastos. Como a queima desses briquetes não produzem fumaça e fuligem, espera-se uma grande redução nos gastos com saúde, já que a exposição à poluição do ar domiciliar pode ocasionar doenças cardiovasculares, infecções respiratórias agudas, doença pulmonar obstrutiva crônica e bronquite crônica, câncer de pulmão, catarata, baixo peso ao nascer e natimortos. No mundo, estima-se em mais de 3,5 milhões de mortes prematuras em todo o mundo por esse motivo.

E é um excelente modelo de negócios, gerando empregos, treinamentos, viveiros, plantações, processamento de briquetes e distribuição. Algo que pode ser feito por governos, parlamentares e ONG. Será que mudamos este país?

Mario Eugenio Saturno é Tecnologista Sênior do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e congregado mariano (mariosaturno@uol.com.br)