21 de dezembro de 2024
OPINIÃO

A hora de Deus


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A hora do Senhor em nossa história pessoal são todas as horas. Ele já nos amava e observava nas entranhas maternas. E nossa hora em comunhão com Deus?

Comecei a refletir sobre como fazer para que não me perca das horas em sintonia com o Céu, a partir da tese de Mestrado em Teologia do Padre Márcio Felipe de Souza Alves, Pároco e Reitor do Santuário Santa Rita de Cássia, em outubro do ano passado. Um parêntese: sua nota foi dez por todos integrantes da bancada.

O seu trabalho, muito profundo - pareceu-me estar lendo Santa Edith Stein-, é uma resposta à inquietação em estar sempre na presença de Deus. O tema: "Liturgia das Horas, atualização de Cristo no ritmo do tempo: um estudo a partir do realismo zubiriano". Xavier Zubiri (1898 - 1983) foi um filósofo espanhol.

A Liturgia das Horas é a oração pública e comunitária oficial da Igreja Católica. É o momento de parar em meio a toda a agitação da vida e recordar que a Obra é de Deus.

São três momentos de oração: pela manhã, no meio da tarde e à noite: de diálogo com Deus presente, destacando os Salmos, de acordo com a tese do autor, a partir de três grandes realidades: o Mistério Pascal, a Liturgia e o Tempo para sua santificação.

Afirma, o Padre Márcio Felipe, que é preciso ampliar os horizontes, para que sentindo e inteligindo as questões inerentes ao Tempo, tenha-se a possibilidade de se unir às coisas do Céu, mesmo estando na terra. Ou seja, viver e sentir o amor de Deus. E acrescenta: "Santificar as horas do dia, através da oração, é poder ressignificar aquilo que se pode denominar a experiência cristã, isto é, eternizar no ser humano o que o Mistério Pascal de Cristo oferece: uma antecipação do Tempo Eterno". Dessa forma, os atrativos do mundo não conseguem fazer do ser humano um escravo.

Como coloca o autor, o Salmo 8 (5-7) declara que o ser humano é joia da criação, e que o Criador sabe que deve cuidar da criatura de modo especial: "Que é o homem para dele te lembrares, e um filho de Adão, para virdes visitá-lo? E o fizestes pouco menos do que um Deus, coroando-o de glória e beleza. Para que domine as obras de tuas mãos, sob seus pés tudo colocastes".

Jesus rezava o Salmos e conversava com o Pai em todo momento de sua existência. "A santificação das horas, através da oração, portanto reconhece a presença de um Deus que é parceiro de seu povo. Santificar as horas do dia, através da oração dos Salmos, para Jesus era poder estar em plena sintonia com as coisas do Pai" -destaca o autor. Como cita Zubiri, a respeito da santificação das horas, "é uma realidade última, fonte de todas as possibilidades que o homem tem, e de quem recebe, suplicando-lhe, ajuda e força para ser".

Enfatiza o Padre Márcio Felipe: "Fazemos memória da Páscoa de Jesus; e santificando o Tempo, isto é, as horas do dia, o ser humano eterniza na sua própria vida, a vida de Deus". E prossegue: "O homem hodierno se contaminou pela cultura do descartável, A santificação das horas está a serviço do amor e humanização, diante da escravidão do consumismo e as divisões das relações humanas, numa realidade marcada pela dessacralização do tempo, que torna os seres humanos cada vez mais distantes de Deus.

É possível santificar as horas e fazer de nosso tempo um tempo do Deus Amor.

Maria Cristina Castilho de Andrade é professora e cronista (criscast@terra.com.br)