21 de novembro de 2024
OPINIÃO

A intenção dos industriais paulistas


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Reza a cartilha econômica que, para crescer, um setor (ou país) precisa realizar investimentos. O que se semeia hoje será colhido no futuro. A julgar pelas intenções de investimento dos industriais paulistas, 2024 deverá ser melhor do que 2023.

Uma pesquisa realizada pela Fiesp com 403 empresas sediadas em São Paulo, de todos os portes, mostrou que mais da metade das indústrias (57%) pretende fazer investimentos neste ano. Em 2023, apenas 43% dos entrevistados manifestaram a mesma intenção. Empresas de todos os tamanhos têm este objetivo, mas o percentual vai subindo quanto maior o porte: 78% das grandes querem investir, 60% das médias e 43% das pequenas.

Alguns fatores explicam esta mudança de humor entre os industriais paulistas. Há um ambiente mais favorável ao investimento em 2024, com melhora nos índices de confiança do empresário. Essas expectativas se refletem na intenção das empresas, que devem ampliar o investimento de 4,4% do faturamento, em 2023, para 5,1%, em 2024, segundo a pesquisa.

O início do ciclo de redução dos juros, iniciado em agosto do ano passado, é um elemento muito importante, uma vez que a indústria, diferentemente de outros setores, não tem alternativas de financiamento mais baratas. Letras de Crédito Imobiliária, Letras de Crédito do Agronegócio e debêntures incentivadas de infraestrutura, por exemplo, garantem a esses segmentos econômicos mais instrumentos para obter recursos. Por isso, uma Selic alta penaliza, especialmente, a indústria.

As empresas dizem que os investimentos serão realizados, prioritariamente, com recursos próprios. Há, porém, expectativa de praticamente triplicar a participação de instituições públicas, como o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e a Finep, em todas as categorias de investimento: máquinas e equipamentos, inovação e Pesquisa & Desenvolvimento. Vale destacar que as indústrias pequenas são as que mais pretendem lançar mão dos recursos públicos.

Para as grandes empresas, a estratégia é aumentar a planta industrial, inovar em processos e adquirir máquinas e equipamentos para ampliação da capacidade produtiva. Já no caso das pequenas e médias, o objetivo número um é a substituição de máquinas e equipamentos obsoletos, seguido por inovação em processos e reformas nas instalações.

A modernização é crucial para aumentar a produtividade do setor, uma vez que a idade média do parque industrial brasileiro é de 14 anos – sendo que, em 38% dos casos, as máquinas e equipamentos já ultrapassaram o ciclo de vida ideal –, conforme levantamento da Confederação Nacional da Indústria (CNI).

Outro estudo da Fiesp indica que os investimentos da indústria de transformação estão tão deprimidos que não conseguem repor a depreciação. O mesmo estudo estima que seriam necessários investimentos da ordem de 4,6% do PIB ao ano, por um prazo de sete a dez anos, para recuperar produtividade da década de 1970.

No momento, esta meta está distante. No ano de 2023, o PIB da indústria avançou 0,2%, sendo que a de transformação caiu 1,3%. Este ano, a Fiesp projeta um aumento da produção industrial de 2,2%.

Para os industriais ouvidos pela pesquisa, os principais fatores que limitam o investimento são a elevada carga tributária e a baixa taxa de crescimento da economia. São pontos que vão além de questões setoriais. Como o novo regime tributário levará alguns anos para estar totalmente implementado e, assim, estimular, inclusive, o crescimento econômico, o investimento do setor industrial deverá seguir aquém do necessário.

Vandermir Francesconi Júnior é 2º vice-presidente do CIESP e 1º diretor secretário da FIESP (vfjunior@terra.com.br)