23 de novembro de 2024
OPINIÃO

Nossas Misses


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A juventude em nossos dias não consegue imaginar que os certames de "Miss Brasil" pudessem atrair a atenção de todas as idades e suscitar torcidas por suas preferidas. Martha Rocha, a baiana que em 1954 quase chegou a ser Miss Universo, virou paixão nacional.

Tivemos a gaúcha Ieda Maria Vargas que levou a coroa universal e era moça culta, além de bela. A eleição de "Rainhas" sempre foi algo que restou de nossa cultura monárquica e, aqui em Jundiaí, desde a década de trinta as "Rainhas da Festa da Uva" ajudaram a mostrar que, além da nossa niagara, a juventude jundiaiense era prenhe de jovens esteticamente bonitas e dispostas a divulgar o principal produto agrícola da cidade.

Candidatavam-se as moças das melhores famílias. Lembro-me da participação de Meméia Garcia, hoje Brant de Carvalho, de Nadir Carbonari, ligada à família que se notabilizou pelo cultivo da vindima no Traviú, de Iole Tozeto Rossi, de Dalva Menzen e de Valderez Mesquita.

Eram tempos ingênuos, em que toda a cidade se envolvia na celebração e se dispunha a bem receber os visitantes. A inauguração do Parque "Comendador Antonio Carbonari", que todos conhecem como "Festa da Uva", foi um acontecimento. Vasco Antonio Venchiarutti, um prefeito predestinado a modernizar a provinciana terra de Petronilha, com a abertura da Avenida Jundiaí, o Ginásio Municipal de Esportes "Dr. Nicolino de Lucca", mais chamado de "Bolão", e os três majestosos pavilhões, além da moderníssima "Concha Acústica".

Celebrava-se a melhor produção da zona rural, com o mais selecionado grupo de moças convocadas a mostrar o que Jundiaí era: uma cidade de uvas de mesa e de uma juventude educada e bem formada.

O padrão de beleza era um dos orgulhos jundiaienses. Além das jovens que aceitavam participar do Concurso de "Rainha da Festa da Uva", muitos outros certames eram realizados em clubes, em escolas, nos "Bancários", em frente à Pauliceia, com a escolha dos "dez mais belos rostos" jundiaienses.

Jacyro Martinasso, um entusiasta de sua cidade, sempre liderou as Comissões que realizavam as Festas da Uva, posteriormente com a introdução de um espaço para a indústria. Houve uma FIJU – Festa da uva e da indústria jundiaiense. Geralda Yarid ajudou a coordenar a equipe de "vinhateiras", que visitaram São Paulo, a convidar a população paulistana para comparecer à festa em seguidos fins de semana de janeiro.

O Governador Abreu Sodré foi um dos convidados, recebeu já no Palácio dos Bandeirantes o grupo colorido das moças que divulgavam sua terra, de forma espontânea e sem qualquer remuneração.

Amor à cidade também se manifestava dessa forma: a participação nos eventos, a disponibilidade, o fervor de um patriotismo genuíno, ainda despido de outras conotações. Hoje, em tempos de famigerado BBB, nem sempre é a beleza física e a beleza d'alma que atraem as torcidas que mandam os desafetos para o "paredão".

Saudades dos tempos em que se podia contar com a participação de Marininha Rinaldi, hoje Cascaldi, Patrícia Amaro, e tantas outras jundiaienses devotadas a divulgar as coisas boas de sua cidade. Comandadas por Geralda Yarid, sob a batuta de Jacyro Martinasso, com o apoio da incansável Mariazinha Congilio, que abria todas as portas na capital. Este trio inspira saudades. Tempos que não voltam mais, porém que estão armazenados na memória de quem foi privilegiado ao vivenciá-los.

José Renato Nalini é reitor, docente de pós-graduação e Secretário-Executivo de Mudanças Climáticas de São Paulo

(jose-nalini@uol.com.br)