Desde que o Padre Márcio Felipe, Pároco e Reitor do Santuário Santa Rita de Cássia, comentou a respeito de vivermos sob a sombra da cruz, que nos protege das queimaduras que machucam a alma, penso na sombra dela no caminho da Via-Sacra.
Se desejo seguir rumo ao Calvário, encontrarei situações, como a em que Pilatos lavou as mãos, omisso diante da verdade, e serei testemunha dos mais fragilizados. Aceitarei, na cruz de cada dia, fazer o bem às pessoas.
Nas dificuldades, concordarei em ser mão que ajuda a levantar os caídos pelas sarjetas do mundo, os abandonados, os tristes, sem julgamento algum.
Assim como Jesus, nesse caminho, encontrou com Sua Mãe, promoverei o encontro com as pessoas que sofrem, conhecidos e desconhecidos. Não fugirei deles.
Admitirei partilhar a cruz de quem carrega em seus ombros os pesos de sua história quebrada. E ao pesar a minha bagagem, entrarei na humildade para pedir ajuda.
Nas beiradas de meus itinerários, terei nas mãos um lenço, com o propósito de enxugar o rosto dos que estão com suas emoções, lembranças, realidades tingidas de sangue.
Não me escandalizarei com os que caem uma segunda vez, após o compromisso de permanecerem em pé. Serei força para que se reergam novamente.
Abatida por razões diversas, com o coração comprimido, testemunharei, aos que lamentam alguns acontecimentos, o sentido da existência do ser humano, criado à imagem e semelhança de Deus.
Não me impressionarei com os que caem várias vezes. Insistirei no pavio que ainda fumega apesar dos ventos contrários.
Admitirei despir minha imagem diante da plateia se, para isso, puder iluminar, por instantes, a vida de alguém.
Ficarei diante da Cruz, contemplando as dores de Jesus, suspenso entre o Céu e a Terra, em gratidão imensa a Quem expressou o Amor total.
Comprometo-me a acender uma lamparina, na escuridão que fez, quando Jesus, o Filho de Deus, sofreu a morte. Quantas pessoas na escuridão favoráveis a que bebês sejam assassinados antes de nascerem. Quantas vítimas da violência, doentes abandonados, idosos explorados e espancados, crianças, jovens e adultos empurrados aos bueiros.
Direi às pessoas sobre o colo de Nossa Senhora, o colo da coragem que sustentou o Filho morto e fortalece.
Nos sepulcros das vítimas, colocarei lírios ou rosas de Jericó, pequeninas flores brancas, que demonstram uma espécie de defesa diante da ausência de chuvas.
De acordo com a lenda, os viajantes daquela área narravam que o vento arrancava a rosa de Jericó do chão todas as vezes que Jesus se dirigia para orar no deserto. Ao transportá-la até bem próximo ao Mestre, ela realizava seu desejo que era o de oferecer um pouco de água a Jesus para aplacar sua sede.
Chegando aos seus pés, ela suavemente fazia sua oferta a Jesus e este com as pontas dos seus dedos levava algumas gotinhas d'água aos lábios. Comovido pelo gesto da rosa de compartilhar sua água, naquele ambiente arenoso e de temperatura elevada, Ele agradecia, bendizia a planta e seguia Seu caminho.
Na madrugada do domingo, reafirmarei, a todos que encontrar, que o Senhor abriu as portas do Céu.
Prosseguirei sob a sombra da Cruz para um dia, Jesus, por Sua misericórdia, apesar de minhas misérias, me conceder a graça de encontrá-Lo na Eternidade.
Maria Cristina Castilho de Andrade é professora e cronista (criscast@terra.com.br)