16 de julho de 2024
OPINIÃO

Momento de encanto

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Estávamos na reunião da Palavra, porque é a Palavra que nos sustenta. Naquela noite, conversávamos sobre a conversão de São Paulo (Atos 22, 3-16). "Detivemo-nos nos versículos de seis a onze: Ora, aconteceu que, na viagem, / estando já perto de Damasco, pelo meio dia, / de repente uma grande luz que vinha do céu/ brilhou ao redor de mim. /Caí por terra e ouvi uma voz que me dizia:/ `Saulo, Saulo, por que me persegues?' / Eu perguntei:/ `Quem és tu, Senhor?'/ Ele me respondeu:/ `Eu sou Jesus, o Nazareno, /a quem tu estás perseguindo'/Meus companheiros viram a luz, mas não ouviram a voz que me falava./ Então perguntei:/ `Que devo fazer, Senhor?'/ O Senhor me respondeu:/`Levanta-te e vai para Damasco./ Ali te explicarão tudo o que deves fazer'./ Como eu não podia enxergar,/ por causa do brilho daquela luz,/cheguei a Damasco/ guiado pela mão dos meus companheiros".

Refletíamos sobre a resposta de imediato de São Paulo quando o Senhor o chamou. Não ficou argumentando, questionando, seguiu sem demora. Dizíamos das dificuldades de cada uma em, ao perceber, que Deus nos fala, segui-Lo sem tardar na percepção de que ele sempre nos indica o melhor. Como está no Facebook da Basílica Volto Santo di Manoppello: "Em um mundo minado de plena desconfiança, Paulo manifesta com eloquência a beleza, a riqueza, a doçura, a magnidade e a força de Deus que deseja alcançar todas as criaturas.

A moça estava sentada ao meu lado. Sóbria naquele momento, contudo seus poros exalam álcool. A cada comentário dizia para si mesma: "Bonito isso!"

Sua expressão de sempre é dolorida. Marcada pelas misérias que tantos da periferia carregam. Foram inúmeros filhos do mesmo companheiro. Amor para sempre de sua vida. Sua pele fosca, pelo sol e pelas noites sem lua.

Conheci-a, caso não me engane, quando se encontrava na porta da cadeia à espera para visitar o marido. Naquela época, o problema dele, além do alcoolismo, eram as drogas ilícitas. Ela não faltava à visita. Mais tarde nos reencontramos no Fórum. Estava ali, com o pai dos filhos, para tentar, em uma audiência, recuperar as crianças que foram para um abrigo. Nervosa e confiante de que os conseguiria. As crianças cresceram de lá para cá e, atualmente, possui netos. Apanha de uma das filhas, mas engole as lágrimas da confusão interior, da falta de equilíbrio em seus passos, que ocasionaram que suas crianças também perdessem a estabilidade no trapézio do mundo.

Na atualidade, há noites em que dorme na rua com o marido, embriagados, num canto da praça, cobertos por uma manta desgastada que ela carrega na mochila. Não são moradores de rua, pois possuem três cômodos, embora povoados pelos filhos que como ela e o marido perderam o rumo. Talvez na rua, sem avistá-los, lhes dê a sensação de que estão bem guardados em casa.

De repente olhou para meu braço e viu a pulseira com uma imagem de Nossa Senhora Aparecida. Interrompeu a fala e comentou: "Amo demais Nossa Senhora Aparecida! É minha mãezinha! Minha mãe não viveu o tempo suficiente para me criar, mas me deixou Nossa Senhora Aparecida". Chorou e sorriu de esperança.

Naquele momento, como com Paulo, uma grande luz que veio do Céu a envolveu.

Terminada a reunião, despediu-se emocionada. É a Palavra que nos sustenta.

Maria Cristina Castilho de Andrade é professora e cronista (criscast@terra.com.br)