21 de dezembro de 2024
OPINIÃO

Modelo chinês ou americano?


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Em 1988, o Brasil firmou com a China o acordo espacial para construir satélites de sensoriamento remoto (CBERS, pronuncia-se cíbers) e, no ano seguinte, tecnologistas chineses iniciaram as vindas ao INPE. Trabalhei com eles por vários anos. Eles ficavam admirados com nossos bens, pois não tinham residências confortáveis, não possuíam carros, nem equipamentos eletrônicos ou roupas bonitas, vestiam uniformes dos tempos de Mao. Nos anos 2000, já tinham mais que os brasileiros. A economia deles subiu e sobe inabalavelmente.

Algo difícil para brasileiros imaginarem? Claro que não, ao menos para os da minha idade para cima, pois já fomos o país que mais crescia no mundo e por cem anos, até que a ditadura destruiu o Brasil. Segundo Delfim Neto, o Ernesto Geisel quebrou o país (antes de tornar-se presidente) ao fechar o Brasil para beneficiar a Petrobras.

O país só melhorou depois do Plano Real do presidente Fernando Henrique Cardoso. E o presidente Lula trouxe o Meirelles do PSDB e iniciou um boom. Mas cometeu o mesmo erro do Geisel, protegeu a Petrobras e perdeu o momento ideal para o Pré-Sal. Depois, tivemos a destruição provocada pelos presidentes Dilma e Bolsonaro. A URSS teve Stalin, a China Mao, depois cresceram, então, há esperança!

O Brasil parece muito com a China, estado centralizador e investidor. Embora, nos Estados Unidos da América, o governo também seja um grande comprador.

Veja-se que o PIB dos Estados Unidos em 2023 foi de 18,6 trilhões de dólares e o da China de 11,2 trilhões. O orçamento de defesa dos EUA para 2023 foi de 858 bilhões, 10% maior que o ano anterior, e da China, 224 bilhões de dólares, 7,2% maior que 2022. Impulsionam a economia, mas mostra preparo para uma guerra futura. O orçamento da NASA foi de 23,5 bilhões de dólares (2022), fora os investimentos das empresas privadas, da Agência Chinesa 11,7 (2021). Espaço e Defesa são impulsionadores de tecnologia. Pode-se questionar, mas é melhor que construir pontes que ligam nada a lugar nenhum!

A economia chinesa é impulsionada por investimento em infraestrutura, como estradas, pontes, ferrovias e portos, exportações, pesquisa e desenvolvimento, com prioridade na tecnologia da informação, energias renováveis e biotecnologia. E ainda moradias, bens de consumo e serviços. Claro, requerendo mão de obra (barata) que passa por qualificação (educação) e geração de riqueza (muito melhor que receber bolsa disso ou daquilo e ficar em casa).

A economia dos Estados Unidos é impulsionada principalmente pelo consumo doméstico que tem acesso ao crédito e a renda alta. As compras governamentais já citadas. Empresas como do Vale do Silício contribuem por meio do desenvolvimento de novos produtos, processos e serviços.

Creio que os políticos brasileiros deveriam ter vergonha de se declarar patriota, mas adotar medidas despatriotas como testemunhamos. Deveriam reunir-se em um Fórum para o Progresso do Brasil, analisar os modelos chinês, americano e brasileiro (que dava certo), e criar políticas de estado que façam o país ser o gigante que merece ser.

Mario Eugenio Saturno é Tecnologista Sênior do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e congregado mariano (mariosaturno@uol.com.br)