21 de novembro de 2024
OPINIÃO

Discursos vãos


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Como se previa, a COP 28 foi um fiasco. Pudera, liderada por produtores de petróleo, quem esperaria a decisão inevitável de banir, uma vez por todas, o uso de combustíveis fósseis?

Gasta-se uma fortuna e polui-se ainda mais a atmosfera, com os milhões de voos antes e depois da reunião em Dubai. Volta-se com aquela sensação de fracasso. Mas antes mesmo da realização do encontro, já se sabia que a humanidade está falhando e que irá colher os frutos dessa criminosa omissão.

O momento é crítico para frear a crise climática. Todos sabem que é preciso cortar drasticamente as emissões de carbono. Isso foi acordado em Paris, em 2015. Logo mais, serão dez anos de promessas descumpridas, de acordos violados.

O planeta, infelizmente, caminha para mais de 2,4 graus centígrados de aquecimento, quando não poderia passar de 1,5. O balanço geral feito pela Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Cima, a sigla em inglês UNPCCC, publicado em setembro, mostram que estamos próximos ao aumento de 2,4 a 2,6 graus centígrados na temperatura média global.

O cenário pode ser ainda mais trágico, segundo o relatório anual sobre a Lacuna de Emissões do Pnuma - Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente. Os prognósticos, aqui, são de acréscimo de 2,9 graus centígrados. A Organização Meteorológica Mundial apurou que as emissões de gases de efeito estufa subiram 1,2% entre 2021 e 2022.

Enquanto isso, não se desconhece que mais de 90% das emissões globais provêm de combustíveis fósseis. Não se presta atenção nisso. Ou melhor: despreza-se escancaradamente. Em 2030, a produção de petróleo, gás e carvão será o dobro do que seria permitido para cumprir o Acordo de Paris. O Brasil tem culpa no cartório: é o oitavo país do mundo na produção de petróleo, o vigésimo sétimo na produção de gás e o vigésimo nono na de carvão. Também puxa os índices para cima e, para culminar, aceita integrar a OPEP - Organização dos Países Exportadores de Petróleo. Sem deixar de apostar na prospecção de petróleo na foz do Amazonas.

É mentira acreditar que governos não prestem atenção ao que os cientistas já comprovaram: 2023 foi o ano mais quente da história. Houve recordes mensais desde junho. Isso significa que o ano passado foi o mais quente em cento e vinte e cinco mil anos! Será fenômeno natural? Os homens não têm nada a ver com isso?

Os dados são do Observatório Climático Europeu Copernicus e da agência americana Administração Oceânica e Atmosférica Nacional. Os cientistas sérios estão desalentados diante de tamanha insensibilidade de parte de todos os governos e da inércia da sociedade. Entende-se no Brasil que um estágio de subdesenvolvimento agravado por inúmeras circunstâncias, resultado de uma educação que já deixou o estado falimentar para se converter num enorme fracasso, o iletramento deixe a população mais entretida com questiúnculas do cotidiano. Mas o que dizer dos países civilizados e cultos? Como explicar a inação suicida?

Falta dinheiro para a adaptação climática. Mas sobra dinheiro para engordar Fundões - Partidário e Eleitoral. O dobro do que se gastou nas últimas eleições municipais foi aprovado por um Parlamento que só pensa em eleição e na matriz da pestilência chamada reeleição. Discursos vãos constituem o cardápio rotineiro da política profissional e sórdida.

A derradeira e frágil esperança é a consciência da sociedade. Principalmente das crianças e jovens, que colherão os resultados deste dolo governamental estimulado pela cúpida ignorância da maioria. Haverá tempo de reverter o curso dos acontecimentos?

José Renato Nalini é reitor de universidade, docente da Pós-graduação e Secretário-Geral da Academia Paulista de Letras (jose-nalini@uol.com.br)