Depois de um 2023 surpreendentemente positivo, com o Produto Interno Bruto (PIB) fechando o ano três vezes maior do que o projetado em janeiro, 2024 chega desafiador e com algumas incógnitas.
O ano começa com a atividade econômica em ponto morto. O segundo semestre de 2023 foi de desaceleração, então o carregamento estatístico para 2024 será próximo de zero. Ou seja, a economia brasileira não contará com nenhum impulso extra no início deste novo ciclo.
O Boletim Focus, que reúne previsões dos agentes financeiros, espera um modesto crescimento, em torno de 1,5%, para este ano. O Ministério da Fazenda, sempre mais otimista que o mercado, projeta um avanço de 2,2% do PIB. E o ministro Fernando Haddad mostra-se ainda mais confiante que os técnicos de sua pasta: estima uma expansão de 2,5% da economia brasileira para 2024.
Como em 2021, 2022 e 2023 o PIB foi além do previsto inicialmente, não dá para descartar que as previsões governistas terminem por se realizar. Há forças negativas e positivas que podem atuar nesta equação e, dependendo para onde a balança pender, puxarão a economia para baixo ou para cima.
Como vetores positivos, pode-se destacar, no campo da renda, a manutenção da massa salarial em patamar elevado; o aumento real do salário mínimo; e o Programa Desenrola Brasil, que, após viabilizar que quase 11 milhões de endividados saldassem débitos, foi prorrogado até março.
Outros fatores que poderão ajudar a aumentar o PIB de 2024 são: o novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), que suscitará investimentos e, consequentemente, mais empregos; mesmo efeito que terá a adoção de um Programa de Depreciação Super Acelerada, destinado à renovação de máquinas e equipamentos; e, finalmente, uma queda mais rápida da taxa Selic.
Como vetores negativos para este ano, podemos elencar os juros doméstico e externo em patamar elevado; o menor impulso da agropecuária neste ano, depois do desempenho espetacular da safra do ano passado; a desaceleração da economia global; a incerteza externa em função dos riscos geopolíticos com a guerra na Ucrânia e os combates entre Israel e o grupo Hamas; e o menor estímulo fiscal.
Para a indústria de transformação, os juros em nível tão alto, por tanto tempo, são um veneno. Como o setor não dispõe de mecanismos específicos de financiamento que viabilizem taxas mais competitivas, como debêntures incentivadas, Plano Safra, LCI, LCA, CRI ou CRA, os industriais sentem pesadamente essas condições financeiras restritivas.
A expectativa do mercado é que a Selic termine o ano em 9,25%. Inevitavelmente, essa postura conservadora do Banco Central levará a um crescimento modesto da indústria de transformação em 2024 e 2025. Sendo que o setor vem amargando sucessivos desempenhos negativos nos últimos anos. Este é um ponto de atenção: é preciso virar esta chave, dar condições para a indústria retomar o protagonismo do passado.
Por fim, em um horizonte de médio e longo prazos, a aprovação da Reforma Tributária é uma excelente notícia. O Brasil ganhará em eficiência com o novo sistema de cobrança de impostos sobre o consumo. Haverá significativo impacto sobre a competitividade e a produtividade industrial, bem como sobre o crescimento econômico do país.
Vandermir Francesconi Júnior é 2º vice-presidente do CIESP e 1º diretor secretário da FIESP (vfjunior@terra.com.br)