21 de novembro de 2024
OPINIÃO

Irmã Flórida está feliz

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Irmã Flórida Mestag era uma freira vicentina que dirigiu a tradicional "Escola Paroquial Francisco Telles", que funcionou durante décadas na Rua do Rosário. Era belga, baixinha, de olhos profundamente azuis. Suave, mas severa. Quando entrava numa sala de aula, todos os alunos se postavam de imediato em pé e diziam: "Bom dia, senhora Diretora!". Algumas irmãs treinavam os alunos para que a saudação fosse em francês.

Hoje ela empresta seu nome para uma Escola Municipal de Educação Básica no Mato Dentro e, de onde estiver - acredito que no céu - está muito contente. Seus alunos conseguiram que a Prefeitura enfrentasse a recuperação de uma área degradada junto à Lagoa Espelho d'água.

O pleito dos alunos gerou a inauguração do Parque Urbano do Mato Dentro. A iniciativa ganhou a fase nacional do Prêmio Escolas Sustentáveis, promovido pela Fundação Santiliana e Organização dos Estados Ibero-americanos para a Educação, a Ciência e a Cultura.

Tudo indica uma convergência de interesses. A diretora da escola, Tânia Villela, conta que se implementou um projeto de discussão a respeito dos biomas da cidade. Chamou-se "Água e Solo - Tamo Junto". Foi o que levou os alunos a um estudo mais aprofundado sobre o entorno. Observaram que era incrível o grau de degradação da lagoa, junto à nascente do Rio Capivari.

Os estudantes fizeram a maquete da lagoa, foram à Prefeitura e viu-se que a área de praticamente um alqueire merecia tratamento especial. Na verdade, eram quatro lagoas. O espaço passou a contar com pistas de corrida, ciclofaixa, quiosques, mesas e bancos, parque infantil e academia ao ar livre.

Todos os cento e oitenta alunos da escola se envolveram. Até crianças de cinco anos catalogaram os animais que viviam na lagoa. As do quinto ano estudaram o solo. O projeto continua e os educandos se sentem valorizados, porque sua ideia produziu resultado. Têm a consciência de que melhoraram o ambiente, reforçaram a ideia de pertencimento e a convicção de que se a população quiser, ela consegue com que o Poder Público, mandatário da vontade popular, atenda às justas reivindicações da comunidade.

Quantos estabelecimentos de ensino existem na cidade? Dezenas. E a presença de uma direção atenta e sensível pode produzir milagres. Assim como a Santiliana promove concurso para detectar os melhores projetos socioambientais do Brasil, Colômbia e México, existem outras instituições que auxiliam o desenvolvimento de uma consciência ecológica, uma das maiores necessidades nesta era de cataclismos gerados pelo mau uso da natureza. Quando exerci a função de Secretário Estadual da Educação, entre 2016 e 2018, os Emirados Árabes patrocinaram concurso para premiar a melhor escola estadual que promovesse a transição energética.

O professor de ciências e a equipe de alunos chegou a ir a Dubai e Abu-Dhabi, conhecer a realidade ecológica de um país que vive da exploração de petróleo, mas sabe que isso vai acabar.

Um estabelecimento de ensino tem de interagir com o entorno. Envolver a comunidade em seus propósitos. Isso é recomendável para as escolas de ensino fundamental e médio, mas é obrigatório para a Universidade. Porque o ensino de terceiro grau brasileiro se alicerça sobre três pilares: ensino, pesquisa e extensão. Este último é sempre negligenciado. E há tanta coisa a se aprimorar em uma comunidade!

Que o exemplo da EMEB Irmã Flórida Mestag frutifique e leve outras escolas a também promoverem a melhoria do ambiente e do convívio comunitário.

JOSÉ RENATO NALINI é reitor de universidade, docente de pós-graduação e Secretário-Geral da Academia Paulista de Letras (jose-nalini@uol.com.br)