21 de novembro de 2024
OPINIÃO

Os Clubes de Futebol e as Casas de Apostas

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Sabemos que os jogos de azar são proibidos de exploração pela iniciativa privada em nosso país. Toda e qualquer jogatina é exclusiva de comercialização pelo Governo, a partir da divisão de Loterias da Caixa Econômica Federal. Obviamente, existe o submundo dos apostadores, com o "Jogo do Bicho" e os Bingos Clandestinos.

E o que isso tudo tem a ver com o futebol profissional?

Tudo!

No último Campeonato Brasileiro, as Casas de Apostas (que não podem atuar com sede no Brasil, conforme explicado acima, e por isso estão sediadas no Exterior) estiveram presentes nas camisas dos clubes da Série A e em alguns da Série B, C e D. Até mesmo na camisa do Paulista de Jundiaí, na 5ª divisão estadual, há um patrocinador dessa natureza.

O que surgiu como uma avalanche em nosso país, visto o número de empresas, passou a ser objeto de desejo dos clubes. Todo mundo quer uma "beting", como é chamada, para encher os cofres. O São Paulo FC, por exemplo, já trocou pela 3ª vez o seu sponsor.

Como boa parte das equipes está sem dinheiro, essas verbas são consideradas fundamentais para a sobrevivência no ano. Só que há um problema: a discussão sobre o conflito de interesses. Vide a máfia dos apostadores que surgiu nesse ano, onde jogadores importantes estiveram envolvidos (Santos, Red Bull Bragantino, Goiás e outras equipes tiveram atletas envolvidos – e foram vítimas deles). E nesse episódio, algo que me assustou: nenhum cartola, árbitro ou treinador esteve envolvido. Todos são imaculados e somente os atletas foram "tentados"?

Na Inglaterra, há algum tempo essa relação de Casas de Apostas e Clubes estava sendo discutida. E a Premiere League decidiu: paulatinamente, proibirá as diversas formas de patrocínios desses empreendimentos nos clubes ingleses, com a justificativa de que "é necessário independência das equipes e demonstração de que não se envolve com manipulação de resultados para agradar um apostador".

Se essa medida fosse aplicada no Brasil... muitos clubes estariam em desespero!

Mas existe um outro problema local: muitos bingos clandestinos se tornam informalmente parceiros de clubes de futebol, aproveitando uma brecha da lei que fala sobre "incentivo ao esporte amador". Entretanto, acabam ajudando os profissionais, dividindo a receita (o que é crime).

Bingo, hoje, só se pode por causa filantrópica (quermesses de igrejas, ONGs, clubes amadores), sendo que as contas devem ser prestadas e a entidade carente deve ficar com os recursos.

O "golpe" é: alguém monta um bingo clandestino e se transveste em "promotor solidário", procura um clube de futebol profissional (para atrair torcedores e ter clientes), e alega que ajudará as categorias de base (e na verdade, é um engodo). De tal forma, "legitima" o esquema. O clube fica com algum dinheiro, e o bingo com boa parte.

Brasil afora se vê isso: o promotor ganha um dinheirão, doa uma cadeira de roda ou algum dinheiro, e ainda sai com a impressão de bom moço...

Fico me questionando: se um clube de futebol aceita tal esquema com parceiro ilegal para conseguir recursos, o que não aceitaria por dinheiro?

Cada vez mais em um mundo que pede Complaince (práticas transparentes, honestas, sem envolvimento com parceiros polêmicos e duvidosos), a relação de clubes de futebol profissionais com Apostadores, Bingos ou qualquer tipo de aposta (legal ou ilegal) deve ser banida. Foi assim com cigarros e bebidas alcoólicas em diversos esportes, será assim com o futebol com qualquer entidade que traga questionamentos.

Rafael Porcari é professor universitário e ex-árbitro profissional (rafaelporcari@gmail.com)