22 de dezembro de 2024
OPINIÃO

As crianças e o uso do celular

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No ano de 1990, a vida do brasileiro mudou radicalmente com a chegada do famoso aparelho celular PT-550. A partir de então, o imediatismo tomou conta das pessoas, fazendo com que as vida cotidiana se torne mais acelerada, com respostas rápidas, informações em tempo real e entretemimento na palma da mão.

A bem da verdade, a mudança foi tão radical que não conseguimos mais imaginar a vida privada e business sem o auxílio do smartphone e se atentarmos, o celular aposentou de vez: a lanterna, os relógios, os cronômetros, os despertadores, os mapas, os dispositivos GPS, os cheques, os gravadores de áudio, o espelho, os ingressos de papel, as câmeras fotográficas, as filmadoras, os iPods, os rádios, os cartões postais, as calculadoras, dentre outros que eu passaria um bom tempo descrevendo.

Acontece que os smartsphones também estão tentando aposentar a infância, que sem dúvida é o melhor período da vida do ser humano, quando a inocência e as brincadeiras tradicionais devem ser mantidas, evitando ao máximo expor excessivamente as crianças às telas encantadoras, brilhosas, de alta definição, mas que podem trazer efeitos maléficos para os pequeninos.

Com a pandemia, muitas medidas de isolamento foram adotadas para conter o avanço da Covid-19. Um dos impactos que isso gerou na sociedade foi uma dependência ainda mais expressiva da tecnologia no dia a dia.

Em destaque, quem experimentou muitas horas de exposição às telas nos últimos dois anos - seja no celular, tablet ou computador - foram as crianças, que também tiveram de se adaptar ao formato de ensino à distância. Talvez o grande desafio dos pais e responsáveis seja justamente encontrar uma forma de equilibrar esse cenário.

Enquanto alguns preferem definir um período do dia para permitir o acesso ao celular, outros preferem pular etapas, oferecendo cada vez mais cedo um aparelho próprio aos pequenos, o que, segundo especialistas, pode prejudicar especialmente o desenvolvimento de habilidades socioemocionais, como empatia e relacionamento social, por exemplo.

A questão é: sem supervisão adequada, muitas crianças acabam passando horas conectadas, causando, dentre outros males, dificuldade de dormir e de estabelecer rotina diária.

Pergunta-se então: existe uma idade adequada para dar o primeiro celular a uma criança? Há algum modelo que seja o ideal? Atualmente, o uso de eletrônicos e tecnologia em geral está de fato muito mais precoce do que as crianças precisam. Especialistas orientam que elas tenham zero acesso à técnologia ao menos nos primeiros dois anos de vida, ou seja, zero uso de telas. Com exceção de casos eventuais, como videochamadas com familiares, por exemplo.

Como pai, esclareço que a orientação dos especialistas está longe da realidade atual, em razão do avanço técnológico que a cada dia nos deixa mais acostumados, mas sem dependência. Porém, disponibilizar um tempo específico para a exposição à técnologia é a chave para que não haja prejuízos na rotina e no sono da criança, uma vez que a radicalização não é a forma mais adequada para lidar com a situação.

Agora, ter o seu próprio celular ainda quando criança não tem condições, pela total falta de maturidade e pelo prejuízo que pode causar no desenvolvimento cerebral, cognitivo, emocional e motor, sendo extremamente necessário o tempo para correr, brincar, exercer sua criatividade em ambientes abertos para se relacionar com o mundo físico e com a natureza.

José Roberto Charone é advogado (charoneadvogados.com.br)