23 de novembro de 2024
OPINIÃO

Critica de uma exposição que eu não vi!

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Como os que, sem crédito, não tem acesso a empréstimo, a Caixa Econômica Federal tratou do mesmo jeito as obras de arte expostas por apenas 6 dias em seus espaços de arte. O que é abominável é a atitude de Evandro Araújo, presidente do PLJ-DF, da deputada federal Bia Kicis (PL-DF) e da senadora Damares Alves (Republicanos-DF), julgando obras que não gostam. O g<ctk:-30>osto não é uma peça em questão; especialistas já haviam liberado o projeto para exposição. Não se trata de um ataque político. Trata-se de perseguição, caça às bruxas. O poder faz isso: quando não gosta, manda tirar, ou divide o conjunto retirando as obras que o incomodam.

Acabaram de criar um precedente perigoso: arte pode ser censurada e foi. Pobre, porque usa a censura para aquilo que não quer ver. O uso da Bandeira Nacional nos últimos anos foi uma farra para todo lado. Virou símbolo de partido. Isso não é admissível! Aqueles mesmos raivosos de bandeira atacaram essa exposição, incômoda não só para eles, mas para todos. Não teve distinção. A preponderância de uma imagem mostra o abuso que houve no uso da Bandeira Nacional.

Talvez a questão mais grave recaia sobre a artista que recebe o peso desproporcional da direção de um banco da Caixa Econômica Federal, que contraria a política de liberdade das exposições que vem promovendo há décadas. Alguns artistas tiveram sequelas quando foram censurados, como Anita Malfati em 1922, que nunca mais conseguiu se recuperar, retrocedeu à paisagens e pinturas com um teor fora do tempo que ela sabia que deveria contemplar.

A artista jundiaiense Marilia Scarabelo, que já teve sua obra exposta em todo o país e na "The House of Arts" em Miami, teve a mesma recepção para seu trabalho! Além da absoluta falta de entendimento do que fez na polêmica obra "Coleção Bandeira", iniciada em 2016 e que é aprimorada a cada novo item de sua coleção.

São centenas de imagens reunidas em uma peça de grande formato. Cada quadrado tem um propósito formal, que no conjunto tem outra leitura. Não se pode isolar uma delas como se fosse uma ovelha negra no rebanho. Não é assim.

O cancelamento da exposição no espaço da CAIXA Cultural vem depois de publicações feitas no antigo Twitter. Lembrando sempre que a crítica quem fez foram os autores de internet, esse sim sem regras e nem limites. Isso fica ainda mais evidenciado quando reunido em sua obra.

Lhe foi negada a expressão, negada a mostrar o que colecionou das manifestações da internet, que não eram dela, mas que por óbvio representou um panorama dos tempos e das manifestações das diversas origens políticas, de ódio e ironia das campanhas políticas, num registro persistente de pesquisa que não pudemos ver. Eu quero poder ver!

Marina Abramovic disse semana passada ao NY Times que "antes, o artista servia aos papas, aos aristocratas e aos Médici. Agora é a indústria e os bancos ou algo assim. Mas a arte performática nunca se tornou uma mercadoria porque é imaterial". Isso não se aplica ao trabalho, mas às manifestações da internet que não são produto de venda em si. Arte, para a aristocracia nunca mudou, mas arte para o poder político, isso tem que ter distância e não acontecer.

A ousadia maior foi a interrupção da exposição. Não foi ruim somente para artista. Ela foi vítima de prepotência e de quem não sabe que arte e artista têm que ter e defender a liberdade.

Eduardo Carlos Pereira é arquiteto e urbanista (edupereiradesign@gmail.com)