22 de dezembro de 2024
OPINIÃO

Por quem os sinos dobram?

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- O que você vai fazer? - um dos guardas civis perguntou.

- Atirar em ti - respondeu Pablo.

- Quando? perguntou o homem com a mesma voz sombria.

- Agora.

- Onde?- Aqui! - gritou Pablo.

- Aqui! Agora! Aqui e agora! Tem alguma coisa a dizer?

- Nada - respondeu o guarda. - Nada. Mas isso é uma coisa horrorosa.

Esse diálogo entre um republicano espanhol e um componente da Guardia Civil está no livro "Por Quem os Sinos Dobram", escrito por Ernest Hemingway. Trata-se de uma obra-prima, publicada em 1940, e considerada uma das suas mais importantes e influentes do século.

A história se passa durante a Guerra Civil Espanhola, que ocorreu entre 1936 e 1939, e segue o protagonista Robert Jordan, um jovem americano que se juntou às forças republicanas espanholas que lutavam contra o regime franquista. Jordan é um dinamitador especializado em explodir pontes, e sua missão é destruir uma ponte para prejudicar o avanço das forças fascistas.

Durante o curso da narrativa, Jordan se envolve em uma série de eventos e relacionamentos complexos. Ele se apaixona por uma jovem guerrilheira espanhola chamada Maria e forma ligações com outros membros do grupo de guerrilha. A história explora temas como amor, solidariedade, sacrifício, e o impacto da guerra na vida das pessoas.

"Por Quem os Sinos Dobram" é um romance que aborda a brutalidade e o absurdo da guerra, ao mesmo tempo que enfoca a luta dos personagens para encontrar significado e redenção em um mundo dilacerado pela violência. Hemingway, conhecido por seu estilo de escrita conciso e direto, usa a história de Robert Jordan para explorar questões mais profundas sobre a natureza humana e a política.

A obra é considerada uma crítica à guerra e ao totalitarismo, além de um retrato profundo dos personagens em situações extremas. Hemingway incorpora sua própria experiência como correspondente de guerra na Espanha durante a Guerra Civil no livro, o que contribui para a autenticidade e realismo da narrativa.

Depois de acompanhar com muita tristeza o desenrolar dos acontecimentos em Israel e na Palestina, é possível estabelecer algumas conexões e reflexões dessa guerra com os temas gerais presentes na obra de Ernest Hemingway, que não saíam da minha cabeça.

Tanto a Guerra Civil Espanhola quanto a história de Israel tem raízes no nacionalismo e na busca pela independência. Na Guerra Civil Espanhola, diferentes grupos lutaram pelo controle do país, enquanto em Israel a independência foi declarada em 1948 após o término do Mandato Britânico na Palestina.

"Por Quem os Sinos Dobram" retrata a vida de guerrilheiros e combatentes em meio a um conflito armado. Israel, desde sua fundação, enfrentou conflitos e guerrilhas em relação aos seus vizinhos árabes e às questões do Oriente Médio. Assim como os palestinos, que se defendem.

Outro ponto interessante é que, tanto na obra de Hemingway quanto na história de Israel e Palestina, vemos personagens e indivíduos que se envolvem em lutas armadas movidos por ideais e convicções. Eles acreditam que estão lutando por uma causa maior, seja a luta contra o fascismo na Espanha ou a construção do Estado de Israel ou a defesa de um Estado Palestino.

Embora a conexão entre a obra de Hemingway e Israel/Palestina não seja direta, essas reflexões podem ser feitas para destacar temas universais presentes em ambas as histórias.

Cada uma delas aborda o impacto humano da guerra, os desafios morais e as lutas por identidade, independência e justiça em contextos históricos diferentes. Além, infelizmente, de mostrar que a paz não é algo duradouro entre os seres humanos.

Por quem os sinos dobram? Eles dobram por você.

Samuel Vidilli é cientista social (svidilli@gmail.com)