São inúmeras as razões da perda de protagonismo da indústria de transformação nas últimas décadas para que chegássemos ao quadro atual, em que o setor responde apenas por cerca de 12% do PIB, quando já foi o dobro. Entre os motivos está a queda nos investimentos que, com o envelhecimento do parque industrial (hoje com idade média de 14 anos), deixa a indústria menos produtiva e menos competitiva.
Agora, pela primeira vez, sabemos a dimensão do trabalho a ser feito: segundo um novo estudo da Fiesp, a indústria de transformação precisa receber investimentos de R$ 456 bilhões por ano (4,6% do PIB), por um período entre sete e dez anos. Este dado nunca havia sido calculado antes no Brasil.
Com este patamar de investimentos, seria possível suprir os gargalos existentes e retomar o nível dos tempos áureos dos anos 1970, quando a produtividade brasileira equivalia a 55% da americana – que é o valor de referência para a economia nacional. Hoje, equivale a apenas 20% da produtividade dos Estados Unidos.
Atualmente, os investimentos na indústria de transformação representam cerca de 2,6% do PIB ao ano. Apenas para cobrir os gastos com a depreciação dos ativos seriam necessários, pelo menos, 2,7% anuais, de acordo com o estudo da Fiesp que foi feito com base em informações da Pesquisa Industrial Anual (PIA), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Outro dado relevante é que os investimentos da indústria de transformação estão diminuindo em relação ao total investido na economia brasileira. Na primeira década dos anos 2000, eram 20,9% do total dos investimentos do Brasil e, em 2021, essa participação caiu para 12,9%. Esse desempenho ruim resulta em perda de oportunidades para expansão do parque industrial.
Segundo o estudo, houve ainda uma mudança estrutural em como os investimentos estão distribuídos. Eles estão cada vez mais concentrados na fabricação de produtos derivados do petróleo e de biocombustíveis. Entre 1996-2000, esse segmento representava cerca de 9% do investimento total da indústria de transformação e passou para um terço do investimento entre 2017-2021. A conclusão é que, sem o setor de coque e derivados de petróleo, há uma lenta renovação do estoque de capital.
Já apresentamos neste espaço os motivos pelos quais a indústria de transformação é fundamental para o desenvolvimento dos países, mas vale reiterar: o setor é o que tem maior capacidade de espraiar seu crescimento para os demais, alavancando o PIB geral. Oferece também, em média, salários melhores e promove o maior investimento em pesquisa e desenvolvimento, além de responder por um terço do recolhimento de impostos do país.
Ademais, nenhum país desenvolvido deixou de ser renda média e se tornou uma nação de renda alta sem uma indústria forte e pujante. O baixo investimento no setor gera atraso tecnológico, perda de produtividade e de competitividade.
Por isso, urge recolocar a indústria como motor de recuperação dos investimentos. Isso só será possível se avançarmos com as reformas que melhoram o ambiente de negócios, sobretudo a tributária – com alíquota máxima do Imposto sobre Valor Adicionado de 25%. Também é preciso melhorar as condições de financiamento, de obtenção de crédito e capacitar a força de trabalho.
A indústria tem muito a contribuir com o Brasil. Por isso, é fundamental que o recupere o dinamismo de outrora.
Vandermir Francesconi Júnior é 2º vice-presidente do CIESP e 1º diretor secretário da FIESP (vfjunior@terra.com.br)