22 de dezembro de 2024
OPINIÃO

Genética, Cemitérios e Senescência

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O culto dos ancestrais sempre foi da maior importância para a cultura chinesa antiga, desde o período prévio ao budismo, que é o mesmo onde a medicina tradicional chinesa lançou as suas primeiras bases.

Tanto é assim que, no Feng Shui, técnica de harmonização de ambientes muito famosa e também originária da cultura tradicional chinesa, um local tão importante quanto a própria casa para ser harmonizado é… o cemitério! Assustados? Não é para tanto, vou explicar.

Veja, no pensamento chinês a energia de uma família é transmitida entre as gerações e ela é a "base" para a energia que desenvolvemos ao longo da nossa vida. Um conceito bem interessante e correlato com os nossos conhecimentos atuais de genética.

Sabemos que a Senescência (processo natural de mudanças metabólicas que ocorrem ao longo do tempo em um ser vivo) pode resultar em "envelhecimento" e é consequência direta do metabolismo celular, ocorrendo dentro da unidade primordial da vida do organismo, a célula.

A capacidade de se manter ativo e funcional mesmo diante destas mudanças, decorre da capacidade geneticamente determinada da renovação das estruturas intracelulares. Acaso saibamos nos preservar, a senescência não se transforma em Senilidade, ou seja, "envelhecimento".

A cultura chinesa identifica isso e dizia que esta energia primordial e genuína da própria família (yuan qi em chinês) se encontrava espalhada no corpo todo, mas o local onde ela era estocada e muito abundante era a medula dos ossos (gu sue em chinês).

Curiosamente, sabemos hoje que neste local são encontradas as chamadas "células-tronco", ou seja, células indiferenciadas com a capacidade de se tornarem qualquer outra célula do organismo. Coincidência?

Preservar os ossos (e a sua medula - para eles era uma unidade inseparável), então, era preservar o receptáculo do "tesouro" da família, que era capaz inclusive de ressoar e imantar todas as gerações energeticamente.

E qual o local onde "guardamos os ossos" de todos os nossos ancestrais? Sim, o túmulo da família! Por esse motivo, o cuidado de localizar bem o cemitério, rodeá-lo com plantas e árvores que trazem boas energias e mantê-lo limpo e organizado, com o fluxo de movimento de energias e pessoas desimpedido é a forma de preservar o arcabouço que envolve o potencial genético de uma família.

Somente isso é suficiente para preservar nosso potencial genético? Não, claro que não. Isso nos traz o melhor das nossas "sementes", ou seja, o nosso potencial. Devemos permitir que este potencial se desenvolva na nossa vida, dando um "terreno fértil" para estas sementes: praticar exercícios semanalmente, comer o mais saudável possível, suplementar elementos que podem otimizar os pontos mais frágeis da nossa cadeia metabólica e, é claro, deixar nossa mente limpa e organizada.

A mente, com suas ideias e pensamentos, é como a água que rega as sementes: quanto mais pura e clara, maior a chance do potencial se realizar integralmente. Quanto ela é escassa ou contaminada com resíduos (mágoas, assuntos mal resolvidos, culpas e remorsos, por exemplo) o potencial que nós herdamos de nossos pais é impedido de se realizar.

Alexandre Martin é médico especialista em acupuntura e com formação em medicina chinesa e osteopatia (xan.martin@gmail.com)