21 de dezembro de 2024
OPINIÃO

Brasil, o país do futuro: será que agora vai?


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Se tomarmos as decisões certas, tudo indica que sim. E o que é ainda melhor: podemos dar esse salto utilizando os nossos recursos naturais no combate ao desequilíbrio do clima, que ameaça não apenas a Humanidade, mas a própria existência da vida na Terra.

Já tivemos uma oportunidade semelhante, no início da Revolução Industrial no século 19, mas, como mostrou o historiador Jorge Caldeira em seu livro "Mauá: Empresário do Império", tomamos então as decisões erradas e, ao invés de avançar, terminamos no bloco retardatário dos países em desenvolvimento.

Afinal, o que está em jogo? Como podemos, desta vez, tomar as decisões certas?

Até recentemente, apesar dos insistentes avisos da Ciência sobre as nefastas consequências do aumento da temperatura global da atmosfera do Planeta - o chamado efeito estufa -, devido à concentração de gases resultantes da queima de combustíveis fósseis, as pessoas resistiam em sair de sua zona de conforto, dando espaço ao negacionismo, amparado em ideias de charlatões capengas. Todavia, com as duras lições recentes como a ilha do Havaí pegando fogo, os incêndios nas florestas em regiões de clima temperado, as inundações devastadoras, o aumento recorde da temperatura nos países europeus e as ondas de calor acima de 40ºC, previstas para este final de ano, o negacionismo parece ter, finalmente, ido para a lata de lixo.

Mesmo assim, o significado dessa sucessão de eventos, que pode levar à extinção não apenas da nossa espécie, mas da própria vida no planeta, continua a ser minimizado e o seu enfrentamento tem sido constantemente postergado.

Uma das razões disso é o poderoso lobby das empresas ligadas à indústria do petróleo. Esta semana vi no canal Globonews a entrevista do presidente de uma petroleira brasileira, que advogava, como querem os Engenheiros da Petrobras, a perfuração de novos poços de petróleo na foz do Amazonas. Questionado pelos entrevistadores sobre o contrassenso dessa iniciativa no momento em que a vida na Terra se vê ameaçada pela concentração do gás carbônico na nossa atmosfera - fruto da queima de combustíveis fósseis - sua resposta foi reveladora da mentalidade que ainda prevalece no setor: não há como prescindir do petróleo, pois há muitas empresas que, para sobreviverem, precisam disso. Confrontado pelos entrevistadores sobre o que seria de fato prioritário, o interesse das empresas ou a sobrevivência da vida no Planeta, o oilman - como os americanos chamam profissionais e magnatas da indústria do petróleo - retrucou dizendo que o Brasil, um país carente de recursos financeiros, não poderia abrir mão de uma fonte de renda tão lucrativa.

Na realidade, é exatamente o contrário.

Jorge Caldeira - mais uma vez - tem mostrado que estamos correndo o risco de repetir o mesmo erro que cometemos na época do Barão de Mauá e, com isso, perdermos novamente o bonde da História, desta vez em condições mais críticas.

Em uma série de três artigos recentemente publicados no Estadão, Caldeira mostra que, segundo dados da Agência Internacional de Energia, os recursos destinados especificamente a ações de combate ao aquecimento global em 2022 somaram US$ 1,617 trilhão.

Para se ter uma ideia do que isso significa, há oito anos o montante dos investimentos em fontes de energia renováveis equivalia a 28% do que era então investido em combustíveis fósseis. Hoje, o quadro se inverteu e o investimento no setor superou em 60% o grupo dos fósseis.

E mais: segundo pesquisou Caldeira, os maiores investidores do Planeta, os fundos de pensão dos países desenvolvidos, que administram recursos da ordem de trilhões de dólares, não realizam mais investimentos em combustíveis fósseis, considerado um ramo que caminha para a obsolescência a passos largos.

O Brasil, além de ter uma matriz energética fortemente baseada em energias renováveis, é a nação naturalmente melhor equipada para sequestrar os gases do Efeito Estufa - as florestas tropicais fixam 55% do carbono do planeta - uma vez que temos, somada à Floresta Amazônica, a Mata Atlântica e o Cerrado, que totalizam 44% de todas as florestas tropicais do planeta.

Se soubermos administrar esses recursos, poderemos dizer que, finalmente, para o nosso País, o futuro chegou.

Miguel Haddad é advogado, foi deputado e prefeito de Jundiaí (miguelmhaddad@gmail.com)