22 de dezembro de 2024
Opinião

De volta ao passado

Por |
| Tempo de leitura: 3 min

O governador Tarciso de Freitas é firme em anunciar a recuperação da malha ferroviária em nossa região. Nestes tempos, o caminho da memória nos leva ao passado de personagens que marcaram sua trajetória de vida nas paginas do livro de história da cidade. Um destes grandes personagens, sem sombra de dúvidas, foi um engenheiro e presidente da extraordinária Companhia Paulista. Nascido em 1886, em Campinas, Jayme Pinheiro de Ulhôa Cintra se formou como primeiro da turma de Engenharia Civil da Escola Politécnica de São Paulo, brilhantismo que praticamente carimbou seu passaporte de Trabalho na área de engenharia da estrada de ferro até o ano de 1950, quando assumiu por 11 anos a presidência da estrada de ferro. Após seu falecimento, em 1962, Jayme Cintra foi homenageado no estádio do centenário Paulista Futebol Clube – que, aliás, foi fundado em 1909 por operários da Companhia Paulista e que foi o primeiro do interior a terminar uma edição do Campeonato Paulista. O Estádio foi inaugurado em 30 de maio de 1957, com um amistoso entre Paulista e Palmeiras, e o galo da terra da Uva venceu por 3 a 1.

O primeiro gol do estádio foi marcado pelo atacante Belmiro, jogador do Paulista. Mas há relatos sobre Jayme Cintra que enriquecem ainda mais sua biografia. A publicação do ferroviário maquinista Angelo. Conta o maquinista que nos dias especiais de viagem, o dr. Jayme deixava o luxo dos vagões de passageiros para ir na frente da locomotiva, chamada pelos ferroviários de máquina. Ao descer, dr. Jayme despedia dos funcionários, apertava mão de cada um deles e sorrindo dizia: "muito bem, foi muito bom, foi uma ótima viagem!" Um homem tão poderoso, com uma humildade maior ainda. A Companhia Paulista, em seus 34 prédios, o chamado Complexo Fepasa, ainda continua a abrigar o desenvolvimento da cidade, seja com a Fatec, o Poupatempo ou com espaços e equipamentos culturais – como a Sala Jundiaí. Mas, desde 1979, o local passou até mesmo a proteger e divulgar sua própria história, para que todos possam conhecer as glórias de seu passado. Foi nesse ano que passou a funcionar o Museu Ferroviário Barão de Mauá, que, além de homenagear Irineu Evangelista de Souza, financiador da primeira estrada de ferro do Brasil, é um verdadeiro centro de preservação da memória da ferrovia e de sua ligação com o desenvolvimento de Jundiaí. A ideia de se construir uma estrada de ferro pelo interior do Estado de São Paulo surgiu na década de 1860, quando a São Paulo Railway Company, que ligava Santos a Jundiaí, declarou-se impossibilitada de prolongar seus trilhos até Campinas. As obras de construção das linhas foram iniciadas em 15 de março de 1870 e já em 11 de agosto de 1872 realizou-se a viagem inaugural de Jundiaí a Campinas. Gostaria de compartilhar estas lembranças a todos os ferroviários que fizeram do exercício da profissão nos trilhos; o alicerce daquilo que eram. Para os ferroviários, os trilhos, os trens e a Estação constituem partes de suas trajetórias, configuram o imaginário e a memória de um passado que nunca deixa de se fazer presente na história de suas vidas.

Guaraci Alvarenga é advogado (guaraci.alvarenga@yahoo.com.br)