21 de dezembro de 2024
Opinião

Mãos atadas

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Minha amiga, Rosemary Ormenesi, me chamou a atenção para o zelo a Jesus Manietado.

Segundo o dicionário, manietado é uma palavra em desuso, que advém do verbo de origem espanhola 'manietar', ou seja, atar as mãos de; tolher os movimentos a; ou ainda, no sentido figurado, tirar a liberdade, constranger.

Veio-me, de imediato, a imagem de Bom Jesus, embora não seja ela a da devoção. Já flagelado, no início de seu calvário, com a corda que descia do pescoço e amarrava as mãos.

Encontrei, no livro "Jardim de Devoção" de Santo Afonso Maria de Ligório, comentários sobre Jesus Manietado que me fizeram bater mais forte o coração.

No texto há questionamentos como: "E Vós, meu Jesus, por quem Vos deixais prender? (...) Mas se os homens têm a audácia de Vos prender, porque é que Vós, sendo onipotente, não rompeis os laços, livrando-Vos dos tormentos que esses bárbaros Vos preparam? Ah! Já o compreendo: é que não são propriamente esses os laços que vos cingem: o duro laço que Vos prende, e Vos conduz à morte, é o amor que nos tendes". Em seguida, o comentário sobre os discípulos não O acompanharem para defender a Sua inocência perante os juízes. "Quem se encarregará da Vossa defesa, se os Vossos amigos mais queridos Vos abandonam?" Segue a reflexão pessoal sobre aqueles que vieram depois, dentre os quais me incluo, que após ter recebido muitos favores do Senhor, O abandono por um vil interesse, por um respeito humano, por um prazer qualquer. Eu que O reconheço nos momentos todos de minha vida, ou para me chamar de volta, ou para me iluminar, ou para me fortalecer...

O Senhor Se permitiu permanecer de mãos atadas para cumprir o Plano de Amor que nos deu a salvação. São dois os meus raciocínios: o primeiro sobre me atar a fim de cumprir o que Deus me propõe e sempre me indica para minha paz. Vixe, as minhas irritações e tantas outras coisas! Como diz o Padre Márcio Felipe de Souza Alves, Reitor do Santuário Santa Rita de Cássia a meu respeito: "Ai, quando a onça desce a Serra do Japi!"

Na Missa de 17 de setembro, o Evangelho (Mateus 18,21-35) diz da resposta de Jesus a Pedro, quando ele Lhe pergunta sobre quantas vezes deveria perdoar: "Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete" e em seguida o Senhor conta a parábola do patrão que perdoou o empregado, mas o empregado, posteriormente, não perdoou quem lhe pedira emprestado. Padre Márcio Felipe, na homilia, comentou que o verdadeiro cristão possui vivências de perdoar, além de experimentar o perdão de Deus. Mãos atadas é também uma vivência para não provocar o mal. Ouvidos, língua, olhar, passos atados...

Quem se encarrega da defesa de Jesus presente no próximo? Não sou expert, infelizmente, pois falho muito, contudo busco fazer isso na certeza de que Deus ama demais todas as Suas criaturas, mesmo que estejam envoltas pelas fuligens do cotidiano. Possui Ele o sopro que cura feridas individuais e sociais.

Como prece fico com a música que o Padre Márcio Felipe nos convidou a cantar naquele 17 de setembro: "Às vezes no meu peito, bate um coração de pedra;/ Magoado, frio, sem vida, aqui dentro ele me aperta;/ Não quer saber de amar, nem sabe perdoar; Quer tudo e não sabe partilhar. / Jesus, manda teu espírito/ Para transformar meu coração".

Maria Cristina Castilho de Andrade é professora e cronista (criscast@terra.com.br)