As tardes de domingo, no início da década de 1960, eram diferentes das de hoje. Completamente! Começavam logo após o almoço, passavam pela matinê no cine República e terminavam com o resultado da rodada do Campeonato Paulista. De preferência com uma vitória do Palmeiras sobre o Santos. O único esquadrão que conseguiu enfrentar o time de Pelé naquela década.
Mas a matinê no cine República era especial. O movimento na rua Barão do Rio Branco, na Vila Arens, começava logo depois das 13 horas. A garotada se aglomerando para ver os cartazes dos filmes, mas já comentando o seriado do domingo anterior. O filme do dia perdia a importância, principalmente quando o seriado era do Roy Rogers ou do Flash Gordon.
Quando as portas do cinema se abriam, a correria era geral, sempre em busca de um melhor lugar. Um saquinho de pipoca na mão, não raro era ver uma delas voando pelos ares em busca de uma cabeça. E sempre eram os garotos lançando suas pipocas para as meninas. Até a hora de as luzes se apagarem. Uma caixinha de Mentex ou um drops Dulcora serviam para o início do papo junto à garota.
E quando as luzes se apagavam, a gritaria era geral... mais pipoca voando, garotos assoviando loucamente, saquinhos de pipoca estourando até que Cid Moreira começava a apresentar o Canal 100, com notícias de 10, 15, 20 dias atrás. Não importava! O que valia era o trailler que viria logo a seguir. E mais gritaria!!!
E dá-lhe filme: Mazzaropi, com seu Jeca Tatu, O Gordo e o Magro; Oscarito e Grande Otelo; O Zorro e o Tonto e o sempre vibrante Tarzan. Até que aparecia escrito "Fim" ou "The End". Mas ninguém saía do lugar: era hora do seriado.
Explico: eram os seriados que deixavam os cinemas lotados: um filme dividido em 12 ou 15 pedaços, como estas novelas que a Globo transforma em 150, 200 capítulos.
Lembro que Jundiaí já teve sete cinemas: Ipiranga, Marabá, Polytheama, Vila Arens, República, Alvorada e Vitória. A censura do filme era, obrigatoriamente, livre, principalmente na matinê. Se aparecesse um filme proibido para menores de 10 anos, era confusão certa na porta do cinema.
E lá vinha o seriado...
O público vibrando com a rapidez do mocinho que apanhava, apanhava, apanhava – mas saia vencedor.
E o seriado terminava assim: to be continued! Pronto! A garotada se levantava correndo para a porta do cinema, reclamando das pulgas, mas comentando, com alegria, o que havia rolado na telona.
Era a hora de procurar a garota paquerada durante o filme e tentar acompanhá-la até sua casa. Mas a frustração era grande: do outro lado da rua, a gente avistava o pai ou o irmão mais velho e mais forte que nós, esperando por ela.
E lá ia Ademir na frente e eu correndo, tentando alcançá-lo. A frustração por não conseguir acompanhar a menina terminava no portão de casa, quando corríamos para saber como estava o jogo do nosso Palmeiras. Nem sempre era necessário perguntar: o sorriso ou o olhar sério de nosso pai era referência para o placar. Tanto eu quanto o Ademir nos acotovelávamos junto ao único rádio da casa, instalado na sala, para acompanhar os minutos finais da partida. E ao final do jogo, com o sol caindo do outro lado do morro, a hora era do banho ou de brincar na rua. Brincadeiras como "mãe da rua", "batatinha frita" "três mocinhos da Europa" ou "estátua".
Coisas que não existem mais hoje, coisas que marcam, que deixam saudade. Uma saudade gostosa, que faz a gente se recordar feliz. Que faz a gente entrar na máquina do tempo, tentando não voltar aos dias atuais. Mas é bom estar aqui hoje, é bom saber que enchemos nossas vidas de coisas boas, de coisas que não voltam mais, mas que estão sempre vivas. Presentes dentro de nós!!!
Nelson Manzatto é jornalista (nelson.manzatto@hotmail.com)