22 de dezembro de 2024
Opinião

Arthur da Paulicea

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A saudosa "A Paulicea", referência histórica, sentimental, poética e gastronômica da cidade, fechou suas portas há dezesseis anos. Seu famoso balcão marcou história na terra de Petronilha Antunes. Surgiu seu comércio como padaria e confeitaria.

Em 1967, foi reformulada e passou oferecer ainda o serviço de restaurante. Casais ali se conheceram nas décadas de 60/70 do século passado. Era local perfumado pela charmosa "paquera" e muitos embevecidos, pelo incenso da adoração familiar. Foi nos tempos românticos de 60 a 80, dos Beatles, Jovem Guarda, festival de San Remo, Rock and Roll, das grandes orquestras, que o local que recebia jovens em busca da amizade, namoro e lazer, e se tornou o glamouroso ponto de encontro da vida noturna da cidade A Paulicea foi testemunha da própria história de Jundiaí e com ela os traços pessoais de seu proprietário Arthur Facchini.

Figura admirável no seio de nossa sociedade, recebe a justa homenagem de ter seu nome gravado no Parque Arthur Paulo Silva Fachini, no Bairro Mato Dentro, como personalidade que faz parte da história de nossa cidade. Quantos prefeitos não tomaram seu cafezinho? Vasco Venchiarute, Luis Latorre, Manoel Ildefonso de Castilho, Omair Zomignani, Pedro Favaro, Walmor Martins, Íbis Cruz, Miguel Haddad, André Benassi, Ary Fossen e antes deles, quanto mais? E os grandes nomes da política nacional. Os governadores Carvalho Pinto, Adhemar de Barros, Orestes Quércia, José Bonifácio Coutinho Nogueira, Laudo Natel, Mário Covas, José Serra. Os presidentes da República, Juscelino Kubitschek e Jânio Quadros. E mais, mais que isto, o "footing" antes e após as antigas sessões nos tradicionais cinemas Ipiranga e Marabá, que funcionavam na região central da cidade e que não existem mais.

Lá conheci Miriam e somos felizes A Paulicea era o mais antigo ponto para o café, no centro da cidade. Tal a sua grandeza emocional que surgiu a "Turma da Paulicea". Personagens vivas da própria história afetiva que a centenária e saudosa Paulicea nos proporcionou, ao longo dos seus 109 anos. Guardo comigo todos os sentimentos dos tempos bons em que nos reunimos em seus finais de tarde. Quero comigo, bem perto de mim, a feliz lembrança que encerram estes rostos fatigados. Tudo que o tempo podia fazer de nós, deles e de mim, já fez. E por isso, que não posso deixar de lembrar desta paixão, que não envelhece em meu coração: a camaradagem engraçada e respeitosa que sempre alimentou o cotidiano de nossos dias. Na fantástica Paulicea de Arthur não havia intolerâncias. Só se falava das coisas boas da vida. Não havia controvérsias. Perdemos a Paulicea e perdemos o saudoso Arthur. Para nós, que vivemos as "primaveras eternas" desta encantadora cidade, buscando sua alma, através da serra do Japi, esforçando-se em registrar o frêmito das suas ruas e o calor de seus desejos, gostaria mais uma vez de dirigir uma palavra, de carinho e gratidão ao eterno Artur da Paulicea, pela merecida homenagem póstuma, por ter oferecido tantos momentos felizes em nossas vidas. E acredito, que a maioria dos jundiaienses, gostaria de fazer o mesmo.

Guaraci Alvarenga é advogado (guaraci.alvarenga@yahoo.com.br)