22 de dezembro de 2024
Opinião

A desaceleração chinesa

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Nas últimas semanas, temos visto a divulgação de uma série de dados preocupantes relacionados à economia chinesa. No segundo trimestre do ano, o gigante asiático cresceu apenas 0,8% em relação ao trimestre anterior, abaixo das previsões do mercado; em julho, as exportações caíram 14,5% no comparativo com o mesmo mês do ano passado, enquanto as importações recuaram 12,4%; e há ainda uma crise imobiliária se formando: com dívidas de US$ 300 bilhões, a Evergrande, segunda maior empreiteira chinesa, entrou recentemente com pedido de recuperação judicial nos Estados Unidos.

Por se tratar da segunda maior economia do planeta, esses tropeços chineses estão deixando o mundo em alerta - e o Brasil de orelha em pé, por conta da importância da China para o país. Afinal, no ano passado, 30% das exportações brasileiras e metade do total exportado pelo agronegócio nacional tiveram a China como destino. O temor é que um abalo mais forte na atividade do gigante asiático impacte a economia mundial que ainda se estabiliza no pós-Covid-19.

A expectativa geral, depois dos severos lockdowns decorrentes da pandemia, era de que a China voltaria com tudo, mas isso não se confirmou. Embora tenha começado forte, a atividade econômica no país em 2023 vem esfriando desde abril, com a demanda interna em queda, bem como preços de ativos e serviços. O fantasma que assombrou o Japão nos anos 1990, a deflação, aquele vem assustando os chineses - em julho, a inflação foi negativa em 0,3%.

O governo tem sido tímido na adoção de medidas de estímulo econômico. De olho na meta de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de cerca 5% em 2023, o Banco Central cortou recentemente as taxas de juros para 2,5% ao ano. Nada parecido com os megapacotes adotados no passado, após a crise financeira global de 2008, baseados em impulsionar a infraestrutura e a construção imobiliária. Por isso, vários bancos e analistas econômicos já preveem um crescimento inferior aos 5%.

O principal nó está no segmento imobiliário, que responde por cerca de 25% do PIB e é uma das principais maneiras de os chineses fazerem poupança. Os sinais de fraqueza no setor começaram ainda na virada do ano e são crescentes. Além da recuperação judicial da Evergrande, o número de novas construções vem caindo. Há também o temor de inadimplência da Country Garden Holdings, a maior incorporadora da China em vendas, uma vez empresa deixou de honrar o vencimento de alguns títulos, assim como fez a Zhongrong International Trust, relevante empresa de investimentos com grande exposição ao setor.

E o impacto no Brasil? A pauta de exportações brasileira para a China está concentrada em cinco produtos: minérios, petróleo, soja, proteína animal e milho. As dúvidas são muitas, mas com o recuo do segmento imobiliário, as commodities metálicas devem ser as mais afetadas. O preço do minério de ferro, que já chegou a superar US$ 200 a tonelada no mercado internacional, tem rondado os US$ 100 nos últimos meses.

Há mais incerteza em relação ao petróleo, por conta da geopolítica (em função da guerra da Rússia, um grande exportador, e Ucrânia) e à proteína animal, cujo consumo deve diminuir com a desaceleração econômica. Soja e milho são mais resilientes porque são vendidos como ração. O Ministério da Fazenda avalia diariamente a situação do país asiático. É preciso estar atento aos sinais emitidos do outro lado do mundo.

Vandermir Francesconi Júnior é 2º vice-presidente do CIESP e 1º diretor secretário da FIESP (vfjunior@terra.com.br)