23 de novembro de 2024
OPINIÃO

A minha amiga Alissa


| Tempo de leitura: 3 min

No Brasil, segundo dados recentes do IBGE, existem cerca de 18,6 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência física que dependem de condições e equipamentos especiais para poder ter uma vida minimamente confortável com independência e mobilidade. Estamos falando de basicamente 9% da população brasileira.

A pesquisa mostra também que a maioria dessas pessoas são mulheres e que a deficiência mais comum é a motora, ou seja, que dificulta na mobilidade física como andar e subir degraus. Para essas pessoas, o uso de cadeira de rodas é uma necessidade básica.

Em 2019, a minha banda [Genomma] foi convidada para participar de um evento beneficente em prol de uma moça cadeirante. Ela estava precisando de uma nova cadeira de rodas, pois a que ela usava já estava pequena para acomodar seu corpo. Não pensamos duas vezes e ficamos muito felizes em ajudar uma causa tão importante quanto aquela.

Alissa Pimentel Karolski Arruda Pereira, ou simplesmente Alissa, se tornou minha amiga a partir daquele dia. Ela acabou virando uma seguidora da minha banda e sempre dava um jeito de aparecer nos nossos shows. Toda vez que divulgávamos alguma apresentação, ela sempre perguntava: “o lugar é acessível para mim?”. Felizmente, a maioria era e particularmente me causava muita alegria vê-la na plateia cantando praticamente todas nossas músicas.

Nossa aproximação iria ser ampliada na sala de aula. Fui convidado a ministrar aulas de Filosofia para uma turma de Psicologia na Unifaccamp e fiquei muito surpreso quando vi a Alissa ali na classe como uma das alunas. Toda quinta-feira eu a encontrava e sempre me sentia motivado a dar a melhor aula possível. Ela fazia um esforço tremendo para estar na sala e eu precisava fazer minha aula valer aquele esforço.

A Alissa nasceu com malformação congênita, o que causou uma escoliose muito severa em sua coluna. Por conta disso, seu corpo sempre necessitou de cuidados especiais. Para se locomover, uma cadeira de rodas que, conforme ela ia crescendo, precisava ser substituída por uma maior.

Cadeiras de roda para quem tem o problema que a Alissa tem não podem ser as cadeiras comuns. Precisam ser cadeiras de roda postural, ou seja, adaptada ao corpo do usuário para que o cadeirante consiga manter um alinhamento biomecânico e uma postura mais adequada, sem deixar de lado o conforto e a liberdade de movimento.

Desde que foi inventada para o rei da Espanha, Felipe II, em 1595, as cadeiras de rodas passaram por diversas adaptações. Desde o formato de triciclo do construtor de relógio alemão Stephen Farfler (1655) até as cadeiras como conhecemos hoje. Elas dão às pessoas que dela necessitam o mínimo de independência, o acesso ao direito básico de ir e vir.

Infelizmente as adequações nas vias e prédios públicos e privados ainda são muito tímidas para os cadeirantes. Isso tudo torna ainda mais desafiador o simples ato de se locomover com segurança e conforto. E a Alissa sabe muito bem disso.

Mas além da mobilidade, ela vem sofrendo com a falta de conforto em sua atual cadeira. Desde a aquisição daquela cadeira feita após o evento beneficente, a Alissa cresceu e sua cadeira não suporta mais seu corpo. Para você ter uma ideia, por causa da pressão causada pela má postura na cadeira agora inadequada, seu corpo está acumulando feridas e bolhas que vivem infeccionando, causando dor e constrangimento.

Há pouco mais de um mês, ela iniciou uma arrecadação - uma vaquinha virtual - para conseguir comprar uma cadeira de rodas postural motorizada que resolva todos esses problemas que mencionei (mobilidade, independência e conforto). Uma cadeira dessas é extremamente cara e por isso ela decidiu pedir ajuda. Ela precisa de R$ 30 mil e até o momento ela só conseguiu 20% do dinheiro.

Recentemente ela lançou um vídeo em suas redes sociais falando de sua situação e mostrando como seu corpo está sofrendo com isso. A Alissa tem urgência e ela teme não conseguir a cadeira nova.

Se você quiser ajudá-la de alguma maneira, entre em contato com ela pelo Instagram @likarolski ou pelo e- -mail alihpkap@outlook.com

A gente pode mudar o mundo dela.

Conhecimento é conquista.

Felipe Schadt é jornalista, professor e cientista da comunicação (felipeschadt@gmail.com)

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI