21 de novembro de 2024
Opinião

42 obras inéditas de Gregório Gruber

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Com participações em centenas de exposições no Brasil e no exterior, Gregório Gruber abre hoje sua nova mostra depois de 10 anos longe das galerias.

Agora, o artista exibe seu trabalho maduro que quem não conhece precisa conhecer: a cidade de São Paulo pelo olhar, técnica, dimensões e cores que identificam seu trabalho já misturado ao cenário paulistano. Serão apresentadas 42 obras inéditas de seu acervo.

Ninguém representou São Paulo como ele. Diria que ele é documento da cultura paulistana desse tempo dos anos 70, 80 e 90 - é a cara de São Paulo.

Essa repetição não é à toa, ele trafegava diariamente nos mais loucos e festivos lugares; passeava solitário nas ruas a noite pra ver São Paulo vazia; conviveu com todos os grandes artistas e, sobretudo, aqueles da geração 70 e 80, grande parte dizimados pela aids.

Conheço-o desde 1971, quando, na Praça Roosevelt em São Paulo, se reunia a intelectualidade, artistas e jornalistas que faziam resistência à ditadura. Estavam ali, moravam ali, frequentavam o Cine Bijou e os bares da rua. Os moradores eram frequentemente abordados pelo Dops, que acreditava que esses apartamentos poderiam ser aparelhos, usados para esconder membros da esquerda e da luta armada. E, mesmo que não fôssemos da luta armada, tínhamos que ir ao Dops para nos apresentar.

Tristes tempos, mas que cultivaram gênios criativos como Zé Celso, com toda força do Teatro Oficina e de seus atores que também estavam por ali. Impensável esquecer "Gracias, Sêñor" onde no palco se destruíam cérebros representados por repolhos - evidentemente a representação da tortura e do esmigalhamento da inteligência. Esse estado de arte de 1973 talvez ele tenha traduzido nesse panorama da melancolia das madrugadas da cidade, que retratava tão bem e que sempre marca seu trabalho.

Gregório faz questão de lembrar de todos amigos e tem um acervo de fotografias fantástico desse tempo, dos amigos que são fortes atores e dos artistas que já se foram.

Tal como em Nova York, aqui se registrou um movimento que não perdeu essa revolução pop. Ao contrário, junto aos outros participa, sistematicamente, de todos os Salões, Bienais – participou da 12ª e 15ª Bienal Internacional de São Paulo e da 11ª Bienal de Paris - e do "Panorama da Arte Brasileira" do MAM – Museu de Arte Moderna. Não perdeu nada que aconteceu nesse seu tempo. Aqui em Jundiaí participou do 4º Encontro Jundiaiense de Artes em 1975.

Registrou magistralmente e mostra nesta exposição, que parece dar continuidade e consagrar seu trabalho, a cara de São Paulo, assim como é a esquina da avenida São João com a avenida Ipiranga, conforme fala em sua apresentação Denise Mattar, responsável pelo texto curatorial.

O que falta é o interesse daqui em trazer essas mostras para que possamos também apreciar e conhecê-las. Não podemos empurrar pra frente como se não tivéssemos nada com isso. Gregório precisa vir pra Jundiaí novamente e é obvio que com um convite da Secretaria de Cultura, que precisa ver e trazer para que todos apreciem  esses que fazem e marcam o panorama da arte brasileira.

A exposição "Desenhos e Pinturas" de Gregório Gruber ficará aberta até dia 14 de outubro na Galeria São Paulo Flutuante na Barra Funda, de segunda a sexta das 10h às 18h e aos sábados das 10h às 12h.

Eduardo Carlos Pereira é arquiteto e urbanista, participou da exposição "Luz e Movimento" do Museu de Arte do Rio de Janeiro em 1971 (edupereiradesign@gmail.com)