17 de dezembro de 2025
Opinião

Existe amor em BSB

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Minha primeira experiência profissional em Brasília teve um término bem frustrante. E me lembro de conversar longamente com um amigo e dizíamos: imagina se amor e política estivessem na mesma frase? Não estou falando de sexo. Infelizmente sexo e política já andam muito juntos. Também não estou falando de paixão, muito menos desse amor cheio de condições e demandas. Estou falando de amor, como Buda nos traz: o genuíno desejo de que o outro seja feliz, não de fazer o outro feliz e nem que este outro me faça feliz.

Maturana, neurobiólogo chileno, criador da teoria de autopoiese e do pensamento sistêmico, no seu livro "Emoções e linguagem na educação e na política", diz: "o amor é a emoção que constitui as ações de aceitar o outro como um legítimo outro na convivência. (...) amar é abrir um espaço de interações recorrentes com o outro, no qual sua presença é legítima". Ressignificando o amor, podemos expandi-lo para além das relações conjugais, familiares e de amizade. Posso amar meus colegas de trabalho, meu chefe, homens e mulheres, velhos e crianças, concorrentes e parceiros. Posso amar até quem não admiro com o simples desejo que este seja feliz e por legitimá-lo como alguém com quem estabeleço interações recorrentes. Não preciso esperar nada em troca, não preciso que essa pessoa se adeque às minhas expectativas, nem lhe dar flores ou escrever poesias de amor.

Para o meu deleite, li um artigo na revista Inc.com (mídia americana reconhecida pelos atores de inovação e tecnologia), cuja tradução do título era algo como: "A força mais poderosa dos negócios não é ganância, poder ou competição desenfreada! É melhor que isso!". Os autores elencaram três comportamentos de líderes excepcionais: 1) cuidar dos outros; 2) construção da confiança; 3) conexão e aprender com os outros. E reforçaram literalmente ao decorrer do texto que "a força mais poderosa nos negócios é o amor. É o que vai ajudar a empresa a crescer, a impulsionar carreiras. É o que dá a sensação de significado e satisfação no trabalho".

Em 2019, saí de Brasília tão descrente a ponto de passar dois anos afastada do ecossistema de inovação. Retorno a Brasília em 2021, e hoje me vejo nutrindo um ambiente de trabalho cheio de amor, compaixão e empatia. A empresa fica em Brasília e executamos políticas públicas para os ministérios e autarquias. E dois meses atrás fizemos uma pesquisa de clima com os mais de 60 colaboradores e o resultado foram três palavras-chaves: colaboração, acolhimento e eficiência. Escuto com constância: "é o melhor lugar em que já trabalhei". E eu concordo. Temos ali um espaço seguro em que podemos compartilhar os sentimentos inclusive de medo, angústia, dúvida, erros. Não buscamos culpados, buscamos soluções. As pessoas estão sempre acima de tudo, legitimamos um a um, com suas necessidades, sentimentos, verdades e defeitos. São as pessoas que mudam o mundo. E pessoas amadas são seguras e fortes e podem transbordar esse amor até para um ambiente tão aparentemente hostil quanto é Brasília. Sim, existe amor em Brasília. E com muito orgulho, experimento isso todos os dias

Elisa Carlos é especialista em inovação e head de operação (elisaecp@gmail.com)